O único problema, dizem os especialistas, é que, mesmo se a OTAN desse à Ucrânia seus antigos navios gratuitamente, modernizá-los ainda custaria mais dinheiro do que Kiev dispõe.
O vice-almirante Ihor Voronchenko, comandante da Marinha ucraniana, confirmou em uma conversa com o Canal 5 ucraniano, anteriormente nesta semana, que a Ucrânia está negociando a compra de navios desativados da OTAN para reforçar sua frota do Mar Negro. Um grupo de funcionários ucranianos retornou recentemente dessas negociações, disse ele.
"Os países parceiros — aqueles que atualmente nos fornecem assistência, estão considerando esta questão como promissora", disse o vice-almirante. Kiev, acrescentou ele, está procurando obter navios desativados cuja idade seja satisfatória para a Marinha, e "de acordo com certas formas de pagamento".
Voronchenko explicou que a Ucrânia precisa de navios porque é "um país de trânsito, e somos obrigados… a garantir a navegação pacífica de todos os navios no Mar Negro. Não podemos cumprir todo esse espectro de trabalho com apenas um draga-minas, o Henichesk, que obtivemos".
Em conformidade, disse ele, Kiev está procurando agora outro draga-minas, e possivelmente outros navios, de países membros da OTAN.
Comentando as observações de Voronchenko, observadores russos sugeriram que era um sinal do estado lamentável da Marinha da Ucrânia, bem como do potencial econômico e industrial do país em geral. Afinal de contas, observaram os especialistas, menos de um quarto de século atrás, antes do colapso da União Soviética, a Ucrânia albergava alguns dos maiores e mais avançados estaleiros do mundo, construindo tudo, de corvetas a porta-aviões. Desde 1991, a Ucrânia independente construiu apenas um punhado de pequenas corvetas, navios antissubmarinos e navios de patrulha.
Além disso, após o colapso soviético, grande parte da indústria naval da Ucrânia, concentrada em estaleiros maciços em lugares como a cidade portuária de Mykolaiv, no sul da Ucrânia, continuou dependente da cooperação com seus homólogos russos. No entanto, desde a crise nas relações russo-ucranianas em 2014, a cooperação diminuiu significativamente, com os construtores navais russos se reorientando para os fabricantes nacionais para coisas como os motores diesel e outros componentes avançados.
Em uma conversa com o portal de notícias russo Economics Today, Boris Rozhin, editor-chefe do centro analítico-informativo Kassad, sugeriu que a Ucrânia está procurando novos navios "simplesmente para mostrar a bandeira e um ‘aumento [hipotético] das capacidades da Marinha'".
"Mas comprar um navio desativado é apenas metade da batalha", explicou Rozhin. "Também é preciso gastar dinheiro em reparos, afinações e melhoramentos, em treinamento da tripulação para padrões diferentes e em incorporar o navio no sistema único de abastecimento da frota".
Portanto, o especialista observou que o anúncio de Voronchenko parece ser pouco mais do que uma campanha de relações públicas. "Os navios desativados não podem mudar o equilíbrio de forças no Mar Negro. Vale a pena lembrar que a Ucrânia nem sequer foi capaz de colocar em ordem os navios de Sevastopol que lhes foram entregues pela Rússia. A Marinha da Ucrânia é financiada com as sobras [do orçamento das forças armadas] — eles vão comprar um navio, mostrá-lo e deixá-lo nas docas, mas sua utilidade real será muito pequena".
Por sua parte, o perito militar independente Prokhor Tebin explicou o esquema provável que será usado para a compra pela Ucrânia de navios da OTAN: "O Congresso dos EUA atribui 300 milhões de dólares (cerca de 927 milhões de reais) condicionais a Kiev. Com esses fundos, Kiev recebe não dinheiro real, mas navios antigos, o custo dos quais é, então, inscrito como assistência. Os EUA têm muitos navios imobilizados por todo o mundo e, depois de tomada a decisão política necessária, não seria um problema reativá-los e enviá-los para a Ucrânia. Mas eles seriam entregues sem armas a bordo."
No início desta semana, Voronchenko acusou a Rússia de "saquear" seus ativos navais restantes na Crimeia e usar esses navios como doadores de peças. A Rússia negou as acusações, apontando para o fato que sua Frota do Mar Negro está sendo equipada com os navios mais modernos e que para abastecer seus navios estão sendo usadas peças novas.
A grande maioria dos navios ucranianos deixados na Crimeia após o retorno da península à Rússia (35 navios, em sua maioria pequenos, principalmente auxiliares, principalmente obsoletos) foram devolvidos a Kiev no verão de 2014 através de um acordo entre os dois países. O retorno dos outros 16 navios menores foi interrompido quando Kiev não renovou seu cessar-fogo na guerra civil no leste, e a maioria se acredita estar imobilizada em bases por toda a península.
Golpe do Estado
A Marinha da Ucrânia está atualmente equipada com uma fragata, Hetman Sahaydachniy, entrada em serviço em 1993, uma corveta, um navio de desembarque e várias dúzias de pequenas lanchas de patrulhamento e de mísseis, draga-minas, navios de comando, reconhecimento e apoio.