A vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, acusou o líder da oposição Juan Guaidó de pretender roubar o ouro de seu país depositado no Reino Unido.
"Juan Guaidó pretende roubar o ouro que a Venezuela tem no Banco da Inglaterra. Eles estavam pensando em fazer aqui o mesmo que na Líbia se a incursão de 3 de maio tivesse sido bem sucedida", disse a vice-presidente através do canal nacional Venezolana de Televisión, se referindo ao possível destino do ouro líbio após a queda de Muammar Kadhafi em 2011.
A alta responsável disse que, após vários meses pedindo ao Banco da Inglaterra a devolução de mais de 30 toneladas de ouro venezuelano depositado naquele país, a oposição começou a sugerir que o Reino Unido ficasse com o metal em sua posse.
O governo venezuelano reiterou que no dia 14 de maio entrou com uma ação na justiça britânica para tentar resolver a situação, devido à recusa do Banco da Inglaterra em devolver as reservas depositadas pelo Banco Central da Venezuela.
"Por que o exigimos? Porque estava ocorrendo uma situação inexplicável, em violação do direito internacional público. [É] uma situação em que o Banco da Inglaterra decidiu desconsiderar as ordens dadas por seu cliente, o Banco Central da Venezuela", acrescentou Rodríguez.
Além disso, as autoridades venezuelanas disseram ter anexado um documento no qual o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) insta o Banco da Inglaterra a entregar a essa agência US$ 930 milhões (R$ 4,97 bilhões) em reservas de ouro para que a Venezuela possa atender à situação humanitária derivada da pandemia da COVID-19 através da agência.
Ouro politizado
Todos os países que têm suas reservas de ouro depositadas no Reino Unido devem estar atentos, "porque a qualquer momento que o banco decida não reconhecê-los como clientes para manter seu ouro, isso terá repercussões no mundo financeiro internacional", alertou a vice-presidente venezuelana.
O banco inglês, em conjunto com o Guaidó, decidiu não entregar o ouro à Venezuela, disse Rodríguez.
"É coisa pública, não é de Guaidó, não é de Julio Borges [deputado da oposição, fugitivo da justiça], não é de Leopoldo López [líder da oposição, fugitivo], é da Venezuela, que existe, por que somos um Estado soberano [...] somos parte das Nações Unidas [...] e esse ouro pertence ao patrimônio da República, é inalienável, não pode ser apreendido", comentou ela.
Na quinta-feira (28) haverá uma audiência nos tribunais britânicos, disse.
"Esperamos o maior apego destes tribunais à legalidade [...] que as leis dos mercados financeiros internacionais sejam respeitadas, pois o Banco da Inglaterra só pode atuar como custodiante [...] não para derrubar um governo institucional", afirmou a vice-presidente.
O presidente venezuelano Nicolás Maduro solicitou uma investigação por parte dos órgãos judiciais de seu país e advertiu que aqueles que estão tentando desviar o ouro do seu país serão levados ao Tribunal Penal Internacional.
Da mesma forma, o governo venezuelano afirmou que, cada vez que atrasam a entrega das reservas, se tornam responsáveis pelas mortes que ocorrem devido à pandemia da COVID-19 e ao estado de necessidade do país, "razão pela qual os crimes que estão sendo cometidos aqui são crimes de extermínio e crimes contra a humanidade", indicou Rodríguez.
História do ouro venezuelano
O governo venezuelano denunciou em várias ocasiões a apreensão de seus ativos no exterior, os quais busca recuperar em meio ao bloqueio dos EUA.
A entidade estatal britânica aparentemente retém mais de US$ 1,2 bilhões (R$ 6,41 bilhões) em barras de ouro que foram depositadas durante a presidência de Hugo Chávez (1998-2013), e que fazem parte das reservas do Banco Central da Venezuela.
O Banco da Inglaterra teria se recusado a devolver o ouro, já que em janeiro de 2019 o Reino Unido se juntou aos Estados Unidos e aos demais países que reconheceram Juan Guaidó, deputado da oposição, como "presidente interino" da Venezuela.
Durante anos, o ouro tem sido uma parte crucial das reservas externas da Venezuela.