O Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa), órgão federal sanitário da Argentina, alertou na sexta-feira (27) que detectou nuvens de gafanhotos em fazendas na província de Misiones, na fronteira com o Brasil, especificamente com o Rio Grande do Sul.
Em julho deste ano, um alerta semelhante foi emitido pelo órgão, levantando preocupações entre produtores agrícolas na região e gerando um alerta de emergência emitido pelas autoridades brasileiras. No entanto, o Senasa informa que essa nova nuvem de gafanhotos é composta por insetos de um gênero diferente da anterior e que não têm a característica de realizar voos longos. Não há, por ora, relatos de grandes danos causados às plantações na Argentina.
O engenheiro agrônomo Warwick Manfrinato, professor e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), afirma que apesar das características diferentes dos gafanhotos que se aproximam agora da fronteira com o Brasil, a situação demanda atenção.
"É importante que nós nos atentemos para a ciência, aos órgãos, às instituições de pesquisa que observam, estudam e dão uma direção para o que fazer nessas situações. E isso é a coisa mais importante, especialmente entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que são países que têm excelência na área biológica, excelência na área agrícola e nós estamos, obviamente, prestando atenção a toda essa dinâmica ecológica, dinâmica biológica, para poder nos preparar e ficar atentos", afirma o professor em entrevista à Sputnik Brasil.
"É de se preocupar, porque o prejuízo é enorme e ele é imediato, não dura dias, é uma questão de horas e um desastre para o agricultor. Então, isso é muito importante, que tenhamos essa atenção, para podermos ter a devida, digamos assim, precaução, e sabermos tratar deste assunto", aponta o engenheiro agrônomo.
As nuvens de gafanhotos, que ocorrem em todos os continentes, podem chegar a ter milhões de insetos e consomem plantações com rapidez para acumular energia em meio aos voos, explica o professor, que recorda que as pragas de gafanhotos são difíceis de serem combatidas.
"As espécies de gafanhoto, quando pousam à noite e botam seus ovos, ou seja, quando as fêmeas fazem a sua postura de ovos, elas colocam o ovo embaixo da terra em uma profundidade que torna muito difícil de combater a espécie em sua fase de ovo, de larva inicial. E depois, ela passa por uma, duas, três gerações crescendo e não se locomove, são, às vezes, difíceis de serem notadas", afirma.
O professor da USP explica que as espécies só são notadas quando estão mais velhas e já podem alçar voo, "um estágio bastante difícil de ser controlado" mesmo com pulverizações e inseticidas.
"É realmente uma espécie de inseto muito difícil de ser combatida, [não é] como outras espécies de inseto em que os inseticidas e os insumos agrícolas e defensivos agrícolas são bastante aplicáveis. É realmente uma preocupação para a agricultura em geral", aponta, ressaltando que a prevenção e o controle da praga é difícil.
Manfrinato reforça que a melhor postura diante da ameaça natural é aguardar as orientações de órgãos sanitários e de pesquisa como o Senasa e também a Embrapa, baseados em experiência e pesquisa científica.
"As orientações que a gente pode obter virão dos institutos de pesquisa, dos centros de pesquisa, aos quais tanto a Argentina quanto o Brasil estão atentos. A gente espera que os prejuízos sejam pequenos, torcendo para que as populações dos gafanhotos sejam pequenas", afirma, acrescentando que ocorrências como essa têm surgido com mais frequência devido à crise climática.