A moeda digital chinesa elimina em grande parte a capacidade dos Estados Unidos de imporem sanções e bloqueios baseados em um sistema de transferências internacionais SWIFT, que controla, assim como obtém, informações sobre essas transferências, afirma o canal de televisão chinês CGTN.
Mas a ideia estende-se mais adiante, destaca o professor de inovação e tecnologia, Enrique Dans, em seu artigo para Forbes. Segundo ele, criar uma moeda digital à margem do sistema poderia diminuir uma enorme porcentagem de transações internacionais, 88% em particular, que hoje se realizam em dólares.
O desenvolvimento de grandes rotas logísticas e comerciais que a China planeja abrir no futuro próximo poderia fazer esse movimento ainda mais lógico e ajudar a cimentar a expansão do domínio econômico da China no mundo, detalha o artigo.
Por outro lado, o sistema oferece ao governo chinês certo grau de controle sobre as transações em um sistema de "anonimato controlado", que lhe permite saber quais valores se movem e de onde, o que por sua vez lhe dá a oportunidade de investigar quando padrões fraudulentos forem detectados.
Fazer uma moeda programável também oferece outros níveis de liberdade, por exemplo, a possibilidade, já experimentada, da introdução de expiração para alguns montantes quando se pretende impulsionar a economia, acentua o artigo da Forbes.
"No momento, a China não planeja emitir mais dinheiro do que já está em circulação: cada yuan digital emitido anula seu equivalente em papel. Mas o fato de que este elemento de sua política monetária funciona dessa forma no momento, não significa que não possa mudar no futuro", esclarece Dans.
No mercado tão evoluído e acostumado ao uso do pagamento eletrônico como o da China, a introdução de uma moeda digital oficial também permite reduzir o nível de vulnerabilidade e o risco de depender de empresas privadas para a circulação do dinheiro no dia a dia.
Além disso, o lançamento de uma moeda digital provavelmente dará à China uma vantagem importante sobre outros países: maior grau de liberdade no palco internacional, acentuou a mídia norte-americana. Por isso, mais de 60 países já iniciaram estudos sobre a emissão deste tipo de moedas, o que implica que, durante um tempo, elas conviverão não apenas com seus equivalentes físicos em papel, mas também com o crescente uso de criptomoedas à medida que estas estabilizam seu valor progressivamente, explica Enrique Dans.
"Agora, nós enfrentamos uma situação que muitos pensavam ser impossível: a destruição do dinheiro. As repercussões serão enormes", concluiu o especialista.