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'Ausência' do Brasil favorece descompasso do Uruguai com o Mercosul, apontam especialistas

© Foto / Esteban Collazo/Presidência ArgentinaOs presidentes Alberto Fernández (Argentina, segundo da esquerda para a direita), Luis Lacalle Pou (Uruguai, terceiro da esquerda para a direita) e Mario Abdo Benítez (Paraguai, à direita) e o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, durante a 61ª cúpula do Mercosul, em Montevidéu, no Uruguai, em 6 de dezembro de 2022
Os presidentes Alberto Fernández (Argentina, segundo da esquerda para a direita), Luis Lacalle Pou (Uruguai, terceiro da esquerda para a direita) e Mario Abdo Benítez (Paraguai, à direita) e o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, durante a 61ª cúpula do Mercosul, em Montevidéu, no Uruguai, em 6 de dezembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 07.12.2022
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A cúpula do Mercosul realizada nesta terça-feira (6) expôs mais uma vez as tensões do bloco, com os países-membros manifestando abertamente as discordâncias entre si. A principal polêmica gira em torno da flexibilização de regras pretendida pelo Uruguai e da resistência dos demais países, em especial da Argentina.
Durante a 61ª Reunião Ordinária dos chefes de Estado do Mercado Comum do Sul (Mercosul), Argentina e Uruguai acusaram-se mutuamente de estarem levando o Mercosul rumo ao fim, seja pelo "imobilismo" ou pela "ruptura". Com um Brasil — maior economia do bloco — sem expressão, as rusgas ficam difíceis de serem aparadas, mas esse cenário tende a mudar, segundo especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
O principal ponto de tensão se deu em torno do interesse uruguaio em aderir à Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês) área de livre-comércio entre países da Ásia, Oceania e Américas do Norte e do Sul. A vontade em aderir à TPP foi comunicada pelos uruguaios cinco dias antes do encontro.
A possível adesão à TPP faz parte de uma insatisfação uruguaia com o Mercosul que já se arrasta há alguns meses. O governo do presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, exerga um bloco imobilizado e advoga por uma maior flexibilização. Isso, no entanto, esbarra na resistência de Brasil e Argentina, que acreditam que esse passo pode acabar prejudicando a produção nacional.
Para o presidente argentino, Alberto Fernández, em vez de buscar o livre-comércio entre os países, "o Mercosul precisa fortalecer sua unidade" para enfrentar os dilemas que estão postos em razão dos impactos da pandemia e do conflito na Ucrânia.
"É hora de sentar e conversar sobre essas simetrias, ver como as resolvemos", disse Fernández.
Para o cientista político Leonardo Paz, analista de inteligência qualitativa no Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV NPII), "o Uruguai acha que o Mercosul está em extinção porque ele acha que não está evoluindo".

"O elefante na sala é a questão do Uruguai. Já há alguns anos, os uruguaios vêm buscando uma flexibilização maior e, como têm dificuldades em conseguir isso, eles têm buscado acordos. Brasil, Argentina e Paraguai querem que qualquer acordo seja feito em conjunto, como está previsto no tratado de 1991 [Tratado de Assunção], mas o bloco tem dificuldade para que todos os quatro estejam no mesmo passo", afirmou Paz à Sputnik Brasil.

O especialista aponta que os parceiros do Mercosul de fora do bloco são países de pouca relevância econômica, apesar das conversas avançadas com Coreia do Sul, Japão, Cingapura e Canadá. Esse cenário faz o Uruguai enxergar o bloco econômico como uma experiência em extinção.

"Não diria que é só retórica. [...] O Mercosul de fato é um bloco muito estático, tem uma dificuldade muito grande", aponta o analista da FGV.

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Paz destaca que, mais uma vez, a participação do Brasil foi de "quase ausência". "O Brasil foi só para assistir pela segunda vez", declarou.
Para Alessandra Maia, cientista política e professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), essa ausência do Brasil é um ponto crucial para entender o descompasso dos países do bloco. A especialista disse à Sputnik Brasil que o cenário tende a mudar com o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência do Brasil.

"O Mercosul, neste momento, está diante de uma possibilidade de reformulação do pacto. Isso se deve em especial pela mudança de governo no Brasil", disse Maia, destacando o "não protagonismo" do governo de Jair Bolsonaro em temas relativos à América Latina.

Maia entende a insatisfação do Uruguai como um produto dessa falta de envolvimento do Brasil nas questões regionais.
"O Mercosul anda muito parado em parte por causa do protagonismo do Brasil, que de repente sai de cena com a ascensão do bolsonarismo. Acho que isso é um fator-chave para o Mercosul. E há uma habilidade muito grande do Lula quando o tema são relações internacionais", analisa.

"O presidente uruguaio está marcando um posicionamento que acho que é muito mais contra a paralisia do atual governo brasileiro do que contra o Mercosul. Ele quer demarcar a necessidade de que não podemos ficar sem fazer nada. O pano de fundo é o imobilismo. Essa é uma estratégia que se mostra promissora, e creio que isso vai poder ser melhor trabalhado pelo próximo governo, certamente", avalia Maia.

Paz não é tão otimista quanto ao cenário futuro do Mercosul por entender que Lula tem uma perspectiva mais protecionista, que, para ele, "é ruim para o Mercosul, vai deixar mais estagnado". O especialista da FGV entende que o bloco tem que se abrir, como defende o Uruguai.
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