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'Equalizar as relações entre Norte e Sul Global': Lula quer protagonismo equiparado, diz analista

© Ricardo Stuckert / PRPresidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista coletiva à imprensa na sala de entrevistas da sede da ONU, em Nova York
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista coletiva à imprensa na sala de entrevistas da sede da ONU, em Nova York - Sputnik Brasil, 1920, 25.09.2024
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou nesta quarta-feira (25) durante a Sessão de Abertura da Reunião Ministerial do G20 e, entre outras coisas, reforçou que o país avalia apresentar uma proposta para reformar a Organização das Nações Unidas (ONU).
Com esse movimento, o Brasil retorna ao cenário internacional com uma agenda ambiciosa de reforma na governança global e de combate às desigualdades. Essas pautas, historicamente defendidas pelos países em desenvolvimento, refletem uma busca contínua por maior representatividade e justiça no sistema multilateral, aponta o especialista ouvido pela Sputnik Brasil.
Rodrigo Barros de Albuquerque, professor da pós-graduação em ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Centro de Estudos sobre a União Europeia da Universidade Federal de Sergipe (Ceuro/UFS), salientou que "as instituições multilaterais historicamente representam os interesses de atores do Norte Global", conferindo a esses países desenvolvidos maior peso nas decisões importantes.
Ele destaca que os países em desenvolvimento, em sua maioria no Sul Global, "disputam espaços e poder" nessas instituições, sem obter mudanças significativas na estrutura de poder.

A proposta do governo brasileiro para reformar essas instituições, segundo Albuquerque, é uma "defesa histórica e importante", já que o Brasil tem desempenhado um papel ativo na Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) desde sua fundação, embora sem conseguir alterar significativamente a dinâmica do poder.

"O Brasil foi um dos países mais presentes na composição rotativa do Conselho de Segurança da ONU", lembra o professor, mas a estrutura de poder, especialmente no Conselho, permanece inalterada.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Sessão de Abertura da Reunião Ministerial do G20, na sede das Nações Unidas, em Nova York - Sputnik Brasil, 1920, 25.09.2024
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Agora, como presidente do G20, o Brasil enfrenta novos desafios. A agenda de inclusão social e combate às desigualdades, central para o governo de Lula, envolve uma série de propostas que visam "investimentos em educação e saúde" e políticas para "promover a inclusão de mulheres, jovens e minorias no mercado de trabalho e na sociedade", grupos historicamente marginalizados.

Protagonismo do Sul Global

Contudo, Albuquerque ressalta que, "sendo uma agenda majoritariamente atinente aos países em desenvolvimento", há dificuldade em implementá-la de forma uniforme entre os membros do G20, muitos dos quais não compartilham das mesmas prioridades.
Outro desafio que o Brasil enfrenta é o financiamento dessas políticas. "Em um cenário de restrições orçamentárias globais pode ser difícil conseguir garantir recursos financeiros" para programas de inclusão social, especialmente considerando a concorrência com os "significativos investimentos necessários para combater as mudanças climáticas".
A eficácia dessas políticas, segundo o professor, depende da "capacidade de cooperação entre os países do G20" e da habilidade de "monitorar e ajustar essas políticas", conforme necessário. No que diz respeito à governança global, Lula tem enfatizado a necessidade de uma "representação mais equitativa" nas organizações internacionais.

"A inclusão dos países em desenvolvimento nos processos decisórios importantes dessas instituições traria mais legitimidade", argumenta Albuquerque.

Ele acredita que isso seria crucial para lidar com as críticas frequentes sobre decisões impostas "de cima" aos países em desenvolvimento. Além disso, reformas no sistema de comércio internacional, liderado pela Organização Mundial de Comércio (OMC), e maior transparência nas instituições financeiras, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, também são vistas como formas de "equalizar as relações entre o Norte e o Sul Global" e reduzir as injustiças históricas.

Aliança Global contra a Fome e a Pobreza

Outro ponto alto da agenda de Lula é a proposta da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que se alinha com as prioridades globais e do G20. "A luta contra a fome e a pobreza é uma prioridade global, refletida nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS]", afirma Albuquerque, especialmente o ODS 1 (Erradicação da Pobreza) e o ODS 2 (Fome Zero).
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Ele também destaca que a Aliança Global está "alinhada com as discussões do G20 sobre segurança alimentar", uma preocupação crescente diante das crises econômicas e climáticas. Para o professor, a iniciativa também visa "promover práticas agrícolas sustentáveis e resilientes", cruciais para o desenvolvimento sustentável, e está de acordo com as metas ambientais e econômicas do G20.
A proposta de Lula, diz Albuquerque, "está firmemente enraizada na necessidade de cooperação internacional", um princípio fundamental do G20. No entanto, ele alerta que crises globais emergentes, como as guerras no Oriente Médio e na Ucrânia, ou novas pandemias, podem "redirecionar a atenção dos membros do G20" e relegar a segundo plano as políticas de inclusão social e combate às desigualdades. Mesmo assim, o Brasil permanece firme em seu papel de defensor das causas dos países em desenvolvimento, com Lula liderando a luta por um mundo mais justo e igualitário.
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