Uma onda de protestos se espalhou por diversos países do mundo nas últimas semanas, particularmente na América do Sul. Com início no Equador, as manifestações chegaram também à Bolívia e ao Chile.
No Chile, houve pelo menos 18 mortes confirmadas até agora, estado de emergência e toque de recolher decretados. O presidente chileno, Sebastián Piñera, chegou a dizer que o país estava em guerra e colocou os militares na ruas.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), afirmou na quarta-feira (23) que monitora esses protestos e que mantém conversas com o Ministério da Defesa. Bolsonaro chegou a falar do emprego das Forças Armadas nesse cenário.
A Sputnik Brasil ouviu dois especialistas em segurança que avaliaram as condições para o uso das Forças Armadas em caso de manifestações e também a capacidade delas para conter protestos.
Bolsonaro conta também com as Polícias Militares
O coronel Ubiratan Ângelo, ex-comandante da polícia militar do Rio de Janeiro e coordenador de segurança humana na ONG Viva Rio, lembra que o presidente da República é o comandante em chefe das Forças Armadas e pode ativá-las em caso de distúrbios.
"É a missão das Forças Armadas defender a soberania e as instituições federais", disse Ângelo em entrevista à Sputnik Brasil, acrescentando que esse é o principal instrumento do presidente para conter o que avaliar como ameaças ao país.
O especialista também comenta que em casos extremos as polícias estaduais podem ser acionadas sob comando federal para auxílio em ações.
"Toda vez que você tiver uma grave pertubação da ordem, ou seja, qualquer ameaça à normalidade da ordem pública, não somente um crime ou outro, mas sair do controle normal da ordem pública, você tem a convocação das forças estaduais, que passam a atuar sob a égide [do governo federal] e a polícia possa ser coordenada pelas Forças Armadas, em especial pelo Exército", explica.
O ex-comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro lembra que as polícias militares são as primeiras a serem acionadas em caso de manifestações e que acredita que Bolsonaro conta com isso. Ubiratan Ângelo também explica que o uso das Forças Armadas não significar uso de força máxima.
"A utilização das Forças Armadas é como elemento dissuasor, primeiro de posicionamento - de tomar uma posição estratégica, uma posição tática - e com ações preventivas. A utilização das Forças Armadas não significa necessariamente repressão e uso da força no máximo da força", avalia.
Forças Armadas não tem 'nenhuma' experiência com protestos
O especialista em segurança, Paulo Storani, ex-instrutor do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), também ressalta a legalidade da fala do presidente Jair Bolsonaro.
"Diante da grave perturbação da ordem, a Constituição prevê o emprego das Forças Armadas para que ela seja restabelecida e mantida", diz Ubiratan em entrevista à Sputnik Brasil.
Storani acredita que o tipo e o tamanho das manifestações que ocorrem no Chile certamente colocaram o governo em alerta. "As Forças Armadas sem dúvida nenhuma já estão se preparando para isso", disse em referência a possíveis manifestações no Brasil.
"Com certeza o gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República acompanha muito bem isso com os órgãos da inteligência, não tenha dúvida disso", afirma.
Mesmo assim, o especialista alerta para o fato de as Forças Armadas não terem a mesma bagagem das polícias militares com manifestações.
"As Forças Armadas estão preparadas tecnicamente? Sim. Se têm experiência. Não, sem dúvida nenhuma", conclui.