Especialistas opinam que Moscou deveria fazer parte das negociações para a resolução desta crise nos Bálcãs.
A liderança da Sérvia se viu obrigada em 2011 a iniciar negociações sobre a normalização das relações com os kosovares albaneses, com mediação da União Europeia, devido à pressão de Bruxelas para que a região se aproximasse mais da UE e para tornar mais fácil a vida dos sérvios do Kosovo.
No entanto, após a introdução por parte das autoridades de Pristina em novembro de 2018 de tarifas aduaneiras de 100% sobre mercadorias provenientes da Sérvia e da Bósnia e Herzegovina, o diálogo foi suspenso.
"As negociações [entre Belgrado e Pristina] pararam por culpa dos albaneses, eles não fazem concessões em nenhuma das questões. As autoridades sérvias afirmam, por sua vez, que enquanto os albaneses não começarem a fazer concessões como eles o processo de negociações ficará parado. Neste momento há mudança de poder na União Europeia [...] Vão chegar pessoas novas e as negociações poderão ser retomadas sob novas condições", afirmou Elena Guskova, chefe do Centro de Estudos da Crise Contemporânea nos Bálcãs do Instituto de Estudos Eslavos da Academia de Ciência da Rússia.
Por outro lado, Belgrado deixou bem claro que, antes de mais nada, as tarifas impostas pelos albaneses sobre mercadorias oriundas da Sérvia têm que ser levantadas e os direitos da população sérvia em Kosovo e Metohija, que foram definidos pelo acordo de Bruxelas em 2013, devem ser respeitados.
No entanto, não há quaisquer passos positivos por parte dos albaneses, eles não querem discutir as permutas de territórios nem proporcionar direitos aos sérvios de Kosovo e Metohija, muito menos levantar as tarifas introduzidas. Porém, em Kosovo tiveram lugar eleições, e é possível que novas estruturas políticas e pessoas mudem a postura perante Belgrado.
De acordo com Guskova, seria perfeitamente natural que Moscou fizesse parte das negociações para a resolução deste conflito.
"Durante as negociações de 2006-2007 sobre Kosovo e Metohija, das quais participaram a União Europeia e vários países, incluindo a Rússia, foram feitas boas propostas, bem como foi alcançado entendimento entre todos os participantes sobre esta questão", concluiu a especialista.
"Quanto à participação de Moscou, mais tarde ou mais cedo a Rússia irá fazer parte das negociações [...] de acordo com a anterior chefe da política externa da União Europeia, Federica Mogherini, qualquer solução que seja alcançada entre a Sérvia e Kosovo deve ser confirmada pelo Conselho de Segurança da ONU, desta maneira nenhuma decisão poderá ser tomada sem o consentimento da Rússia", disse a cientista do departamento de estudos das regiões dos mares Negro e Mediterrâneo do Instituto da Europa da Academia de Ciências da Rússia Ekaterina Entina.
Em 1999, o confronto armado entre os separatistas albaneses do Exército de Libertação do Kosovo e o Exército e polícia sérvios levou ao bombardeamento da antiga República Federativa da Iugoslávia, que então incluía os territórios da Sérvia e do Montenegro, em uma ação liderada pelos EUA e pela OTAN.