O comércio de farelo de soja entre Brasil e China pode estar prestes a crescer. Isso porque autoridades de ambos os países estão negociando padrões fitossanitários que podem facilitar o comércio bilateral. Com isso, o Brasil pode, inclusive, competir com produtores chineses no processamento do produto, algo que hoje ainda não acontece.
É o que afirma Lucas Costa Beber, diretor administrativo da Associação Brasileira dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja).
"O problema é que China sempre preferiu comprar o grão inteiro para justamente ela processar lá. Ela [a China] tem um menor custo [de processamento] então consegue absorver essa soja com um menor valor", afirma.
O farelo de soja, explica o representante da Aprosoja, é um subproduto da extração do óleo para a produção de biodiesel.
Beber explica que a quantidade de farelo de soja produzido vem aumentando conforme o governo tem incrementado a mistura dos biocombustíveis - que passou de 11% para 15%. Até 2023, isso deve impulsionar o esmagamento de soja, que pode chegar a 9 milhões de toneladas.
Com isso, há uma expectativa de aumento da exportação do produto e incrementar o comércio com os chineses. Para Beber, há uma janela de oportunidade se abrindo para o aumento dessas exportações que está ligada ao consumo interno chinês e à guerra comercial com os Estados Unidos.
"Tendo esse acordo [entre] Estados Unidos e China e também se resolvendo o problema da peste suína africana, novamente os chineses entram com apetite no mercado para absorver cada vez mais", aponta.
Beber explica que com o fim da peste suína, que vitimou parte das criações de porcos no país asiático, a demanda pelo farelo de soja para ser usado como ração deve crescer. A carne suína é a mais consumida na China.
O representante da Aprosoja também afirma que a guerra comercial China-EUA beneficiou o produtor brasileiro.
"O produtor brasileiro, se você fosse pegar o balizamento que é a bolsa de Chicago, ele estava recebendo um valor acima da bolsa de Chicago por conta dessa necessidade chinesa e da guerra comercial com os Estados Unidos", diz.
A China hoje importa 80% da produção de soja em grãos do Brasil. Já no caso do farelo de soja, o maior cliente é a União Europeia, que compra cerca da metade do produto, conforme publicado pelo UOL.
Beber afirma que o produtor brasileiro estava preparado para esse aumento de demanda e que poderia produzir ainda mais. O maior problema para o produtor, segundo ele, é a logística.
"A maior dificuldade do produtor, principalmente aqui do Centro-Oeste, aqui do Mato Grosso, é a questão logística. Em alguns lugares ele [o produtor] não está tendo a remuneração necessária para que ele tenha lucratividade. A partir do momento que o produtor passe a ter lucro nós temos condições de dobrar [a produção] sem derrubar uma árvore", conclui.