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Cientista: futuro da COVID-19 no Brasil é incerto porque dados são subestimados

Dois meses depois do início do surto do novo coronavírus no Brasil, as previsões sobre o avanço do vírus no país ainda são muito difíceis, devido ao número insuficiente de dados sobre a COVID-19, afirma virologista.
Sputnik

Passados dois meses do anúncio do primeiro caso da COVID-19 no Brasil, o país ainda se encontra dividido entre muitas polêmicas e poucas certezas sobre o real avanço do novo coronavírus por aqui.

Em 25 de fevereiro, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de COVID-19 no Brasil. O paciente, diagnosticado em São Paulo, estivera em viagem à Itália. Os casos identificados nos dias seguintes também foram importados, ou seja, de pessoas que também tinham estado recentemente na Europa. 

De lá para cá, a doença avançou rapidamente, sempre com suspeitas de que os números reais, de contaminados e de mortos, seriam muito maiores do que os registrados pelo governo, dada a baixa taxa de testes realizados. 

​De acordo com o biólogo Davis Fernandes Ferreira, virologista do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dois meses depois do início oficial do surto do coronavírus no Brasil, é difícil comparar a situação brasileira com a de outros países, como da Europa, dadas as suas dimensões. Assim como os EUA, por exemplo, é "como se tivéssemos vários países", variando muito, portanto, a curva do gráfico de propagação do vírus dentro do território nacional.

"Em cada cenário do Brasil, a gente espera ter uma curva diferente, mais atrasada ou mais adiantada. Mas, de uma forma geral, a região sudeste, principalmente, está sendo bastante impactada", explica.

Ferreira destaca que, em termos de país, estamos, atualmente, em uma curva ascendente de número de infecções, o que caracteriza um período "muito perigoso". 

"O Brasil, devido ao distanciamento social, principalmente, conseguiu retardar essa curva. Mas, agora, é uma fase muito crítica, onde nós estamos vendo um aumento muito rápido do número de casos e do número de mortes. Então, tudo indica que nós estamos em uma curva ascendente e não chegamos ao pico ainda."

​O cientista afirma que, ao chegar a um novo país, é evidente que o vírus encontra uma população com algumas características diferentes, sejam genéticas, de aglomeração urbana, número de habitantes, tipo de nutrição etc. Mas, de maneira geral, não há nada específico no Brasil que leve a crer que o vírus esteja seguindo um padrão diferente de propagação por conta disso, afirma.

"Nós sabemos que os principais fatores que vão indicar a proliferação do vírus no país é o nível de aglomeração no país nesse momento e as medidas que são tomadas para evitar a proliferação do vírus, como capacidade de cada um poder se conter, em termos de higiene pessoal, isolamento, uso de máscaras. Esses são os principais fatores, hoje, que estão ditando a proliferação, a velocidade de proliferação do vírus em qualquer país." 

​Para o biólogo, há, sem dúvidas, uma grande dificuldade de prever o que pode acontecer em meio ao surto porque os dados estão subestimados. E o esforço do governo deve ser no sentido de tentar testar o maior número possível de pessoas, ao mesmo tempo em que busca um equilíbrio no debate entre os motivos para manter o isolamento social ou afrouxá-lo.

"A gente está falando de algo muito sério, porque o termômetro das decisões erradas ou certas é o número de vidas que são tomadas pelo vírus."

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