Portugal antecipa medidas restritivas para o Natal, mas médicos divergem sobre se é o momento certo
05:16, 23 de dezembro 2021
Quem andar pela Avenida da Liberdade, uma das principais de Lisboa, já não será tão livre neste Natal. O governo português antecipou medidas restritivas, como o fechamento de bares e boates, para este domingo (25). Apesar do protesto de empresários do setor, médicos ouvidos pela Sputnik concordam.
SputnikAs ceias natalinas estão permitidas em restaurantes, assim como festas de réveillon e eventos culturais, bem como em cassinos e estabelecimentos turísticos, desde que com a apresentação de testes negativos de COVID-19. Com as principais cidades cancelando queimas de fogos, como Lisboa e Porto, o governo proibiu o consumo de bebidas alcoólicas na rua e limitou a 10 o número de pessoas andando em grupo para evitar aglomerações.
As medidas foram anunciadas nesta terça-feira (21) pelo primeiro-ministro António Costa, após reunião extraordinária do Conselho de Ministros, que também foi antecipada, já prevendo o número de quase nove mil novos casos, recorde desde 2 de fevereiro. O
boletim epidemiológico divulgado nesta quarta-feira (22) apontou
8.937 novas infecções, superando a projeção do Ministério da Saúde de atingir oito mil apenas no Natal.
"Perante os riscos de agravamento da situação com esta variante Ômicron e, enquanto não concluirmos significativamente o processo de reforço da vacinação, adotamos até 10 de janeiro estas medidas. Por isso, para além de mais máscaras, mais vacinação, mais testes e mais controlo de fronteiras, acrescentamos mais teletrabalho, mais limitação nos contatos, mais uma semana de contenção", justificou Costa em conferência de imprensa.
Em uma semana, o aumento de casos foi de 54%. Se comparado com 22 de dezembro de 2020, quando foram detectados 2.436 novos infectados, o crescimento foi de 256%. A diferença crucial é que, há 1 ano,
a vacinação ainda não havia começado. Agora, com mais de 89% da população completamente inoculada, uma das melhores coberturas vacinais do mundo, Portugal tem baixos números de mortes (11) e internações (909), sendo 155 na UTI.
Mesmo com o avanço da aplicação da dose de reforço e com o Sistema Nacional de Saúde (SNS) longe do estrangulamento a que foi levado no fim de janeiro passado, com os maiores números mundiais de mortes e casos por milhão de habitantes, a transmissão acelerada da variante Ômicron levou o governo a se precaver nas festas natalinas.
'Antecipar essa semana de contenção é importante', diz epidemiologista
A maioria dos especialistas responsabilizou o afrouxamento das medidas restritivas no último Natal como principal motivo pelo caos vivido no inverno, que culminou com quase três meses de lockdown. Em entrevista à Sputnik Brasil, o epidemiologista português Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, avalia como acertada a antecipação das restrições, que só entrariam em vigor na virada do ano.
"As medidas anunciadas vão no sentido certo. Antecipar essa semana de contenção face a esse aumento no número de casos a que temos assistido é particularmente importante. É fundamental agora, no período das festas, reforçar todas as medidas de forma a que consigamos controlar esse aumento da incidência. A situação está a complicar-se, apesar de tudo, não com muita severidade, mas não podemos deixar a coisa descambar, e espero que toda a gente compreenda isso também", pondera Mexia.
De modo a evitar a concentração de pessoas em shoppings e centros comerciais após o Natal para a troca de presentes, o governo também proibiu liquidações e promoções até o dia 9 de janeiro, data até quando também estão suspensas as atividades escolares. Uma reavaliação das medidas será feita no quinto dia de 2022.
Questionado pela Sputnik Brasil se as medidas são suficientes e se não chegam um pouco atrasadas, se comparadas a outros países da União Europeia, como a Holanda que decretou lockdown até 14 de janeiro, Mexia diz que o mais importante é a forma de comunicação do governo com a população.
"Não acredito que estejam atrasadas. Do ponto de vista de comunicação, é fundamental passar a mensagem certa de que a testagem é fundamental, a vacinação é fundamental e que toda a gente tem uma responsabilidade importante para reduzir o número de novos casos. Muita cautela agora durante o período festivo, seja no Natal, seja na passagem de ano, sendo certo que vamos assistir a um aumento do número de casos ao longo das próximas semanas", prevê.
Nesta quarta-feira (22), a ministra da Saúde, Marta Temido, projetou que a variante Ômicron deve levar Portugal a superar o recorde de novos casos em um dia, alcançado com as 16.432 novas infecções em 28 de janeiro, no auge da crise.
"Podemos ultrapassar os recordes que já tivemos até agora, porque é uma característica desta variante",
disse a ministra em entrevista à RTP.
'Cadê o vice-almirante?', indaga médico sobre responsável pelo sucesso da vacinação
Apontado como principal responsável pelo sucesso da imunização contra a COVID-19 em Portugal, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, que deixou o comando da força-tarefa do Plano Nacional de Vacinação após ter atingido a meta de 85%, deve ser confirmado como Chefe do Estado-Maior da Armada pelo executivo após o Conselho de Ministros nesta quinta-feira (23).
17 de setembro 2021, 06:34
Se concretizada, a promoção se dará três meses após ter sido anunciada pelo ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, mas desautorizada à altura pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa, em mais um dos ruídos de comunicação entre os atores políticos. Com o Parlamento dissolvido pelo mandatário português, que antecipou as eleições legislativas pela reprovação do orçamento,
Rebelo de Sousa parece, agora, estar disposto a aquiescer a troca de comando nas Forças Armadas.
Mais interessado no cargo máximo da carreira militar, Gouveia e Melo não descartou concorrer à presidência do país nas próximas eleições, surfando na onda sebastianista que invocava seu nome toda vez que a vacinação parecia demorar mais. Agraciado com o Prêmio de Personalidade do Ano de 2021 pela Associação de Imprensa Estrangeira de Portugal (AIEP), Gouveia e Melo encontra admiradores também no meio médico.
O médico carioca Marcio Sister, que mora e trabalha em Vila Nova de Gaia, no norte de Portugal, exalta a competência do vice-almirante no comando do plano de vacinação e ressalta que é fundamental acelerar a dose de reforço para toda a população, endossando o coro do presidente português. Apesar de considerar importantes as medidas anunciadas para o Natal, o especialista diz à Sputnik Brasil que elas deveriam ter sido tomadas antes.
"Acho que deveriam ter sido implementadas assim que a curva de contágio começou a subir. Felizmente, já temos 89% de segundas doses aplicadas, mas poderiam e deveriam ser mais, para o SNS começar a aumentar a aplicação das doses de reforço. Cadê o vice-almirante?", indaga Sister.