Ele observou que a Rússia não queria mais ilusões de que o Ocidente, que "provou ser totalmente indigno de confiança, pouco confiável e mentiroso", participaria de boa fé dos processos de globalização que ele mesmo criou e que não abusaria deles.
"A globalização à americana acabou. Alguns processos residuais terão inevitavelmente de perdurar, mas paralelamente está sendo construído um novo sistema, tanto financeiro como logístico, que não deve depender dos caprichos e do sentimento de superioridade dos nossos antigos parceiros ocidentais", comentou Lavrov, acrescentando que a Rússia tem parceiros reais dentro do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês), Comunidade Econômica Eurasiática (CEEA) e da Comunidade dos Estados Independentes (CEI).
Em seu discurso proferido no fórum internacional Primakov Readings, o chanceler falou ainda sobre a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que, segundo ele, continua sendo o principal motor nas relações não só com a Rússia, mas também com outros países do mundo.
"A expansão da OTAN continua a ser, por assim dizer, o principal motor do Ocidente nas relações não só com a Federação da Rússia, não só com os países pós-soviéticos, não só com os países do antigo Pacto de Varsóvia, que já foram praticamente todos absorvidos pela Aliança do Atlântico Norte, mas também nas relações gerais com outros países do mundo, outras regiões do mundo", destacou.
Além disso, o alto funcionário afirmou que a OTAN "descaradamente e sem nem mesmo corar, se recusou a admitir que havia prometido, tanto a [Mikhail] Gorbachev quanto a [Boris] Yeltsin, não se expandir para o Leste, embora houvesse muitas evidências de que eles estavam mentindo".
Na opinião de Lavrov, a OTAN vai penetrar rapidamente na região da Ásia-Pacífico, e posteriormente deve recuperar a linha de defesa da aliança no mar do Sul da China.
"Quando a penetração da OTAN na região da Ásia-Pacífico ocorrer, e isso acontecerá rapidamente, acho que eles enfatizarão novamente que a linha de defesa permanece, a OTAN é uma aliança defensiva, apenas a linha de defesa estará no mar do Sul da China", disse o diplomata russo.
Quanto ao líder da aliança, os EUA, o ministro considerou que o país está se contorcendo como "um verme em uma frigideira" por não querer discutir a questão dos laboratórios biológicos militares na Ucrânia.
"Um grande problema foi criado com a formação de laboratórios biológicos militares; existem dezenas deles na Ucrânia sob os auspícios do Pentágono. Agora os americanos estão se contorcendo como um verme em uma frigideira, eles não querem discutir o assunto de nenhuma maneira", enfatizou.
Expansão do BRICS a caminho?
O BRICS pode se transformar em uma união de 15 a 17 países se todos os pedidos de adesão forem atendidos, enfatizou Lavrov.
"Este formato [RIC - Rússia, Índia e China] deu origem aos cinco BRICS, que agora gozam de enorme atenção, e toda uma fileira de Estados com reivindicações de adesão plena está alinhada. Se todos estiverem satisfeitos, os cinco ficarão entre 15 e 17 países", disse ele.
No dia 8 de novembro, a Argélia apresentou um pedido formal de adesão ao grupo BRICS. A ideia de incorporar novos integrantes ao bloco havia sido levantada pela China em maio passado. Segundo Pequim, isso ajudaria a aumentar a influência e a representatividade do grupo, além de demonstrar sua natureza inclusiva e aberta. Depois disso, vários países, como Argentina e Irã, mostraram-se dispostos a aderir à associação.
O grupo BRICS é uma associação econômico-comercial intergovernamental informal de cinco países em rápido desenvolvimento em que se estabelece o objetivo de promover o diálogo e a cooperação multilateral.