"É importante lembrar que a expectativa de vida de uma travesti é 35 anos e que 90% das travestis estão na prostituição por falta de mercado de trabalho", diz a professora de literatura de Belo Horizonte de 36 anos em entrevista à Sputnik Brasil.
A pré-candidata ao Senado pelo PSOL em Minas Gerais diz que vivemos em uma "sociedade odiosa", mas que é necessário pautar um tema historicamente negligenciado: a diversidade.
Ela diz que o tema dos transexuais enfrenta resistência tanto na direita quanto na esquerda. A professora relembra o caso ocorrido com o PT em 2011, quando o partido recuou da veiculação da cartilha "Escola sem homofobia" diante da pressão de lideranças como Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e Marco Feliciano (PSC-SP).
"Quando a Dilma Rousseff veta essa cartilha, ela preferiu negociar com setores conservadores religiosos do que ampliar o debate sobre gênero e sexualidade em sala de aula."
A legislação brasileira determina que 30% das candidaturas dos partidos políticos para o Congresso devam ser ocupadas por mulheres. É comum, todavia, que essa determinação não seja respeitada e que as mulheres que preenchem estas vagas determinadas por cota sejam boicotadas ao não receber recursos para campanha e não receber tempo de televisão no horário eleitoral obrigatório.
Entre os 81 senadores, existem apenas 13 mulheres. O plenário do Senado em Brasília teve banheiros apenas para homens durante 55 anos. O toalete feminino foi construído apenas em 2016.
Na Câmara dos Deputados a situação não é muito diferente, as mulheres são apenas 10,5% dos 513 parlamentares.
"A palavra Senado, em sua etimologia, significa 'senhor', 'senhores mais velhos'. Se é uma casa feita para senhores mais velhos, eu acho que é legítimo uma travesti disputar esse espaço para ressignificar essa palavra", afirma Salabert. "Mais importante que a vitória ou conquistar o cargo é levar a sociedade a refletir e debater sobre essa diversidade que está no dia a dia e ela insiste em excluir e querer apagar."