A Sputnik Internacional falou sobre essa situação com Ian Taylor, especialista em relações internacionais da Universidade de St. Andrews, que também é professor da Escola de Estudos Internacionais da Universidade Renmin da China.
Explicando por que os EUA estão altamente preocupados com a crescente presença da China na África, o professor assinalou que Washington tem medo de perder sua influência nesta região, já que ainda desde os anos 60, o Ocidente passou a considerar a África como zona de sua influência.
"Sendo assim, quando a China ou qualquer outro país começa a reforçar seus laços econômicos e políticos com a África, eles [EUA] ficam altamente alarmados".
O especialista ressaltou que o maior interesse da China na região é a economia, sendo esta exatamente a área onde os EUA têm medo de perder suas posições, assinalando que uma grande quantidade dos investimentos chineses na África foi realizada por pessoas privadas ou por empresas estatais, contudo, em nível provincial.
"É ridículo pensar que Pequim seja capaz de controlar a política dos países africanos […] A participação chinesa na economia dos países africanos não é coordenada e quase não é controlada. Os chineses tratam da África da mesma forma que trata todos os outros lugares, uma vez que a principal meta de seu negócio […] é obter lucro", destacou Taylor.
O analista explicou também qual é a diferença na percepção da África pelo Ocidente e por outros países.
"A verdade é que, a arrogância de um país, ter ouvido sobre as relações de outro país com um continente inteiro, tudo isso não tem nada a ver com os EUA", assinalou o professor, sublinhando que somente Trump age desta maneira.
Em vez de considerar a África como um lugar atrasado, que precisa de uma assistência urgente, tais países como a China, Índia, Brasil, Turquia, Rússia e Malásia encaram a África como uma plataforma para possibilidades, o que ecoa nos corações dos africanos, destacou.
"Esses laços que são baseados em, ao menos, nas tentativas de construir as relações de igualdade ou mutualmente benéficas, são muito mais atrativas para a maior parte dos países africanos do que aquele 'favor' que lhes proporcionam Paris, Washington ou Londres quando eles os visitam. Acho estranho que os políticos ocidentais ainda não entenderam que esse é o caminho a seguir", disse Taylor.
Taylor explicou que na África, além de poucos países do ocidente africano, os EUA não possuem uma forte presença econômica. Além disso, a colaboração com estes países africanos está também sendo diminuída, já que no momento, os Estados Unidos não precisam muito do petróleo africano, sendo esta a base, junto com recursos naturais, de suas relações com Washington. Sendo assim, dificilmente o aumento das tensões entre EUA e a China influencie diretamente na situação.
"Porém, o que veremos no futuro próximo é o crescimento da estridência quanto ao crescimento da histeria em torno da presença chinesa na região. Como se sabe, os políticos norte-americanos sempre precisam de um inimigo, e este inimigo muda constantemente […] No momento, o inimigo principal é a Rússia, pelo visto, a China é a seguinte nesta lista", frisou.
Ian Taylor ressaltou que para os EUA, trata-se de uma política habitual: em vez de construir boas relações na área da política e do negócio, eles precisam justificar o crescimento dos gastos orçamentais, já que a China e a Rússia servem muito bem para este objetivo.