"Vocês não puderam criar uma história falsa melhor", disse o enviado russo o oficial Vassily Nebenzia sobre a história de que as autoridades russas ordenaram o envenenamento dos Skripals.
"Dissemos aos nossos colegas [do Reino Unido] 'vocês estão brincando com fogo e vão se arrepender'", continuou. Ele também afirmou que o principal argumento do Reino Unido sobre o suposto envolvimento russo no caso — "a origem russa inquestionável da substância" — não é mais válido.
"Acredite em mim, meus amigos, esta história e esta investigação estão longe de terminar. Na verdade, está apenas começando", destacou o enviado russo.
A Rússia não recebeu nenhuma lista de perguntas do Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido, como as autoridades britânicas alegaram, de acordo com o emissário. Em vez disso, Moscou foi manchado com o caso Skripal da mesma maneira que o propagandista nazista Joseph Goebbels usou táticas como repetir mentiras várias vezes para convencer um grande grupo de pessoas de certa conclusão, muitas vezes sem provas, emendou.
O ataque aos cidadãos russos em Salisbury foi provavelmente um "ataque terrorista", observou o funcionário.
"Nós exigimos acesso consular à Yulia Skripal", disse o diplomata russo.
'Teatro do absurdo'
Embora as acusações contra a Rússia sobre o caso Skripal fossem "infundadas e horríveis", todo o escândalo levantou muitas questões em Moscou, continuou Nebenzia.
"Por que tivemos que esperar 8 anos e decidimos fazê-lo duas semanas antes das eleições e várias semanas antes da copa do mundo? Por que nós o libertamos do país em primeiro lugar? Por que fazer isso de maneira extremamente pública e perigosa?", questionou.
O fato de que as vítimas do agente nervoso conseguiram sobreviver ao ataque também levantou sérias questões, disse Nebenzia. Isso só poderia ser explicado se um antídoto lhes tivesse sido administrado imediatamente após a exposição. Autoridades britânicas, no entanto, insistiram que nenhum antídoto foi usado, já que nenhum existia em primeiro lugar.
As atividades do laboratório de Porton Down, localizado a vários quilômetros da cena do incidente e que desempenha o papel principal na investigação, também levantaram várias questões. Nebenzia disse que depois que o executivo-chefe da Porton Down, Gary Aitkenhead, revelou que o laboratório era incapaz de confirmar a origem do agente químico usado no ataque, a teoria apresentada pelas autoridades do Reino Unido começou a desmoronar.
As principais autoridades britânicas citaram explicitamente o laboratório de Porton Down, quando atribuíram a culpa a Moscou, então, seguindo essa revelação, as agências secretas do Reino Unido correram para ajudar o governo, produzindo novas alegações baseadas em "dados de inteligência", disse Nebenzia.
"Eu nem sei o que comentar sobre isso. É uma espécie de teatro do absurdo. Você não poderia ter inventado uma história falsa melhor?", perguntou o oficial russo.
"Conhecemos o valor da inteligência britânica de Tony Blair", acrescentou o diplomata, aparentemente referindo-se às notórias mentiras das supostas armas de destruição maciça iraquianas, argumento que fomentou a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e seus aliados, em 2003.
Por sua vez, a representante permanente do Reino Unido na ONU, Karen Pierce, disse que o Novichok [substância A-234] usado para atacar os Skripals era uma "arma de destruição em massa". Yulia Skripal acordou do envenenamento, está viva e atualmente está conversando com pessoas próximas a ela, apesar de ser o alvo de uma arma de destruição em massa.
Entenda o caso
A Rússia solicitou que o principal órgão da ONU se reunisse para discutir a carta da primeira-ministra britânica Theresa May, na qual ela reiterou que era "altamente provável" que a Rússia estivesse por trás do ataque a Sergei Skripal e sua filha Yulia.
Na carta de 13 de março, a primeira-ministra britânica deu a Moscou um ultimato para responder às acusações dela, embora não apresentasse nenhuma prova sólida. A Rússia, por sua vez, negou repetidamente qualquer envolvimento no envenenamento dos Skripals em solo britânico.
As autoridades russas sempre ofereceram ajuda na investigação do ataque, no entanto, Londres rejeitou as propostas de Moscou.