Será que é inseguro, caro e ousado viajar para a Rússia nos tempos turbulentos de hoje? Haverá na Copa aqueles hooligans de que a mídia britânica tem falado tanto? Por que o fluxo turístico entre a América Latina e a Rússia continua bem baixo, apesar do grande interesse bilateral?
Conquistando novos patamares
Acima de tudo, deve-se ressaltar que atualmente o turismo na Rússia, tanto externo como interno, deixa de focar só nas grandes cidades, como Moscou ou São Petersburgo. Pouco a pouco, os estrangeiros e os próprios cidadãos russos vão ganhando interesse em descobrir algo além do mundialmente conhecido — tanto mais que a Rússia tem muito para propor.
"O que nós podemos apresentar ao mundo? Claro que temos um potencial colossal", assegura Safonov. "Temos o maior país do mundo, temos todo o tipo de lazer, exceto um — o de praia o ano inteiro", adianta.
Claro que na Rússia há muita praia, e não é sempre frio. Porém, o país verdadeiramente carece de regiões onde a gente poderia se deleitar no mar em qualquer mês do ano. Mas tudo isso é compensado pela variedade histórica e de culturas, sendo que o território russo é integrado por 85 regiões, cada uma com sua mescla de pessoas e mentalidades.
Não foi por acaso que em 2015 a Rússia ficou na lista de Top 10 atrações turísticas em todo o mundo e, segundo Safonov, logo poderá integrar os primeiros três.
Influência de sanções
Não seria um exagero dizer que hoje a Europa, e não só ela, tem mergulhado em uma "histeria antirrussa". Como em todo o mundo a opinião pública às vezes é formada sob pressão da retórica midiática, as pessoas podem simplesmente sentir medo de viajar a um país como a Rússia. Entretanto, para Oleg Safonov, a situação na verdade é totalmente oposta.
"Claro que nós, na verdade, nos deparamos com sanções maciças contra o nosso país, e se trava uma campanha de desinformação séria que pretende desacreditar nossos êxitos. Mas não vejo nenhum mal nisso. Pelo contrário, nesse contexto me vem à cabeça uma citação de Churchill, que disse que qualquer informação é positiva, ou seja, publicidade, desde que não seja um obituário", opinou Safonov com ar positivo.
O interlocutor da Sputnik ressaltou que não é a primeira vez na história russa: já aconteceu após a Segunda Guerra Mundial, na época da Guerra Fria. Naqueles tempos de uma confrontação acirrada entre o bloco ocidental e a URSS junto com seus satélites, o fluxo de turistas estrangeiros era fenomenal. Pois as pessoas queriam ver com seus próprios olhos como é que era a União Soviética por dentro.
Copa e segurança 'de 100%'
Nas vésperas da Copa do Mundo 2018 (que é a primeira vez em que a Rússia sedia tal tipo de evento), as alegadas acusações na imprensa estrangeira têm se intensificado. Safonov revelou como é que a Rússia se esforça para providenciar o máximo nível de conforto e segurança para os torcedores.
"Esperamos que venham cerca de 1,5 milhão de turistas estrangeiros para a Copa, convidamos todos. Queremos dizer com toda a transparência e sinceridade que a viagem para a Copa será absolutamente segura. A Federação da Rússia será capaz de garantir a segurança, não se deve ter medo de nada. Além do mais, a Rússia é um país muito hospitaleiro, e os russos sabem dar boas-vindas aos convidados com todo o coração", assegurou.
Mas claro que simples hospitalidade e bom humor da população local não basta para viajar, especialmente para os destinos assim tão afastados. Por isso, contou Safonov, a Rússia fez de tudo para facilitar a estada de torcedores no país.
Assim, recentemente a Rosturizm começou a parceria com o serviço globalmente conhecido de mapas interativos MAPS.ME, que ajuda a construir as rotas turísticas em diferentes línguas (inclusive em português) pelo país e usá-las durante sua estada, mesmo estando sem rede no celular.
"Para os turistas também foram feitos abrandamentos sérios na área de vistos. Ao comprar os bilhetes, pode-se receber um cartão que se chama Fan ID, por via da Internet. Este cartão será uma espécie de ingresso para tudo — um visto e um ingresso ao mesmo tempo. Ao usá-lo, se poderá atravessar a fronteira, viajar dentro do país. Vou ressaltar que será de graça — pois foram lançados trens especiais, dentro da cidade haverá transporte público grátis, o metrô funcionará gratuitamente também para os portadores do Fan ID", explicou.
Safonov adiantou, além disso, que tudo isso não se faz apenas no contexto da Copa. Sua entidade espera que ao viajar para esse evento esportivo muitas pessoas avaliarão o alto nível de organização e ficarão com vontade de descobrir outras regiões, pois há inúmeras, especialmente mais para leste dos Urais, onde fica a cidade mais oriental da Copa, Ekaterinburgo.
Ao responder a uma pergunta sobre os misteriosos hooligans russos, retratados em um documentário da BBC no ano passado, Safonov foi bem irônico.
"Sabem, a BBC deveria mostrar seus próprios hooligans britânicos. Nós é que não os temos, e queria ressaltar que aqui funcionam otimamente a Rosgvardiya [Guarda Nacional da Rússia], o Ministério do Interior e outras entidades especializadas", disse.
Falando sobre os prognósticos para a final, o interlocutor da Sputnik opinou que o esporte é uma área onde dificilmente se pode prognosticar algo, mas confessou que claramente torce pelo time nacional e espera que este possa realizar um "milagre" em meio às condições da casa e ao apoio ativo dos torcedores russos.
Ponte entre Rússia e América Latina
Entre os grandes projetos da Rosturizm consta a abertura das assim chamadas sedes turísticas "Visit Russia" ("Visite a Rússia", em inglês) em vários países. Já foram abertas 29, enquanto se planeja inaugurar 50. A ideia principal destas entidades consiste em contar por que é que vale visitar as regiões russas, proporcionar as informações detalhadas sobre a viagem — tudo isso em língua local. Isto ainda sem enumerar as ferramentas amplamente usadas como as redes sociais, YouTube, Instagram e outros serviços. A América Latina também está entre um dos destinos do projeto, embora ainda no futuro.
"A coisa é que estas sedes são abertas nos principais países que produzem a maior parte do fluxo turístico. Infelizmente, o fluxo da América Latina não é assim tão grande, mas isto se deve à distante posição geográfica e ao preço da viagem", contou Safonov.
Contudo, há vias para mudar essa situação, assegura ele, e um deles é aumentar a consciência das pessoas sobre o país da viagem.
"Primeiro, precisamos de mais informação. Acabamos de lançar o projeto que se chama Russia Travel, um portal de turismo nacional. Nas vésperas da Copa, nós o traduzimos para 7 línguas estrangeiras, inclusive o português. […] Acho que, de qualquer maneira, nosso fluxo bilateral irá aumentando, pois, apesar da distância geográfica, o interesse dos turistas russos pela América Latina é grande, está aumentando, e espero o mesmo na América Latina em relação à Rússia", disse.
"Não é por acaso que um número significativo de nossos turistas vai, por exemplo, ao México, onde há as famosas praias o ano todo. A mesma coisa pode ser feita, por exemplo, no Brasil. Acredito que há belas perspectivas de cooperação nesse campo", resumiu.