Dado que no ano de 2017 as importações russas somaram em 7% de toda a produção interna brasileira, a questão do embargo continua sendo uma das mais sensíveis da agenda, embora não tenha sido primeiro o respectivo caso.
Curso de investigações
Em uma entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o adido agrícola brasileiro fez questão de abordar também a questão dos termos usufruídos.
"Na verdade, eu não chamaria isso de embargo, por que o embargo dá uma conotação… é uma palavra muito pesada. Normalmente, você usa embargo quando vai uma decisão tão somente política. Aí é um embargo. Vamos chamar isso de suspensão temporária das exportações", manifestou o senhor Coutinho.
E foi assim — conforme uma nota publicada em 20 de novembro do ano passado no portal do Rosselkhoznadzor [Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária], desde 1º de dezembro o Brasil passou a ser proibido de exportar carne bovina e suína para o território russo devido à alegada detecção de várias substâncias nocivas usadas para o maior crescimento de massa muscular dos animais.
"O óbvio é que isso tem causado prejuízo grande, imagino eu, para os dois lados, mas eu não tenho números e tampouco o conhecimento para falar qual seria o prejuízo para o lado russo. Mas para o lado brasileiro, é um prejuízo razoável. O mercado russo é um mercado muito importante para o Brasil. O que nós temos tentado e o que nós vimos fazendo durante esses quatro meses é o seguinte: primeiro, tentar atender tudo aquilo que o lado russo tem solicitado", contou o diplomata, adiantando que o lado brasileiro se esforçou a atender todos os requisitos necessários.
Deste modo, destacou o adido, primeiro o Brasil fez um levantamento sobre o fato ocorrido: como é que ocorreu e por que é que ocorreu, "tendo municiado bastante a Rússia com essas informações". Para mais, a Rússia tem solicitado também que o Brasil informasse sobre os respectivos laudos de laboratórios tanto na ração quanto na carne.
Possível levantamento
O encontro, que pode ser decisivo mesmo para a história, aconteceu pouco dias atrás, em 24 de abril, na cidade europeia de Bruxelas, onde os representantes de ambas as partes discutiram todo o leque de questões comerciais, inclusive a de exportações de carne brasileiras.
"E isso culminou com o seguinte. Nós tivemos uma reunião no dia 24 [de abril], anteontem, em Bruxelas, nas margens da Seafood [exposição internacional de pesca]. Foi uma reunião de técnicos entre o Rosselkhoznadzor e a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura do Brasil. E dessa reunião eu fui lá participar", comunicou.
Durante o encontro, foram discutidas também as perspectivas das importações de pescado russo, mas evidentemente o foco principal foi a situação da suspensão das exportações brasileiras, por ser um assunto mais pendente.
"O nosso entendimento, e oxalá que também seja do lado russo, é o seguinte: que aquelas exigências e solicitações que a Rússia fez, consideramos que foram plenamente atendidas. É óbvio que o lado russo precisa de algum tempo para poder analisar tudo o que foi entregue. […] Não poderia dizer que, olha, vai ser daqui a seis dias. Mas o que é importante frisar é que tudo aquilo que foi solicitado pela Rússia, no que diz respeito ao problema em si, o Brasil já forneceu", assegurou o alto responsável.
Entretanto, a expectativa é bem otimista, pois a Rússia historicamente tem estado inclinada para cooperar com o Brasil, tanto mais nos dias de hoje, quando está buscando parcerias novas e alargadas.
Aliás, o diplomata levantou também um tema que pode parecer não assim tão evidente no âmbito da pauta comercial russo-brasileira — a das exportações de carne, mas já de produção russa, para o país latino-americano.
"Eu vejo também a [possibilidade de exportar] a carne russa para o Brasil. Já temos um frigorífico russo que foi habilitado a exportar para o Brasil. Eu imagino que, até em função do gado que é produzido aqui na Rússia, essa carne tem chance no Brasil em determinados nichos, porque não é a carne que vai chegar ao Brasil tão barato, pois estamos falando de carne de alta qualidade e de um animal completamente diferente geneticamente do brasileiro. Então, seguramente, tem um mercado de nicho, por exemplo em São Paulo", resumiu o senhor Coutinho.