A afirmação do embaixador argentino demonstra que a América Latina quer fortalecer laços econômicos com a China e que a delegação norte-americana, liderada por Michel Pense, não conseguiu convencer a América Latina de ficar longe de Pequim, acreditam analistas. Por sua vez, a China, antes da cúpula, acusou os EUA de continuar dando instruções a seu vizinho do Sul com quem ter comércio e com quem não.
Segundo especialista do Centro de Estudos de Finanças da Universidade Renmin da China, Bian Yongzu, as negociações sobre criação de uma zona de livre comércio entre a China e Argentina se devem aos laços econômicos cada vez crescentes entre o gigante asiático e a América do Sul.
Assim, a China fez grandes investimentos na extração de recursos naturais, infraestrutura, agricultura e outros setores da América do Sul, que, por sua vez, importa produtos industriais e eletrônicos chineses.
"As economias têm um complemento mútuo muito alto; os volumes de comércio também estão cada vez maiores", sublinha o analista.
Por outro lado, lembra Yongzu, a América do Sul vem sendo tradicionalmente os "arredores" dos EUA, que possuem muita influência na região.
"Graças a seu grande potencial como Estado, os EUA interveem na política e economia da América do Sul, introduzem sanções sob qualquer pretexto em respeito a alguns países da região ao ponto de desencadear até mesmo ações militares", opinou Yongzu à Sputnik China.
"Os EUA poderão mostrar sua forte influência, intervir, retardar as negociações por dentro, fazer com que os países da América do Sul sigam seus conselhos, continuem sendo seus ‘arredores'", afirma o analista chinês.
Mesmo assim, prossegue, mesmo intervindo, os Estados Unidos não poderão mudar a tendência de aproximação econômica entre a China e a América do Sul.
Outro interlocutor da Sputnik, especialista do Instituto da América Latina, Aleksandr Kharlamenko, também acredita que Washington não conseguiu persuadir os países latino-americanos, durante a última cúpula, para que se afastem da China.
"A China há muito tempo e com muito sucesso está desenvolvendo relações com a Venezuela, Cuba e outros países. E estes mesmos países serão alvos principais dos ataques políticos [dos EUA] para prejudicar a união da América Latina", ressalta Kharlamenko.
"A China vai contrapor sua potência econômica a isso […] O país também recorrerá à sua flexibilidade tradicional, o curso de não interferência nos assuntos internos, de apoio à independência dos países da região. Trata-se da linha chinesa tradicional de oposição à hegemonia", ressalta o analista russo.
No momento, muitos países da América do Sul estão sendo afetados pelas sanções dos EUA, incluindo produtores de aço do Brasil e em outros países. O curso da administração de Donald Trump, que visa devolver a indústria norte-americana aos EUA, também está afetando a economia latino-americana.
Mas, concluiu Kharlamenko, a diplomacia político-econômica da China usará estes fatores para encher o vácuo que está se formando.