Cabo de guerra: quais os impasses e vantagens de um acordo entre Mercosul e UE?

© Beto Barata/PR/Agência BrasilPresidentes do Mercosul e de países convidados posam para a foto oficial em Brasília
Presidentes do Mercosul e de países convidados posam para a foto oficial em Brasília - Sputnik Brasil
Nos siga no
Nesta quarta-feira (18), em Bruxelas, foi realizada a reunião entre os ministros de Relações Exteriores do Mercosul com ministros de países integrantes da União Europeia. A principal pauta do encontro é um acordo de livre comércio. Mas quais seriam os benefícios entre uma negociação desse tipo para países da América do Sul?

As negociações entre os blocos tiveram início em 1999 e foram interrompidas entre 2004 e 2010, mas ganharam força após mudanças políticas ocorridas nos últimos anos em alguns países sul-americanos, sobretudo na Argentina e no Brasil.

Os cinco países do Mercosul — Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, embora o país governado por Maduro não participe do acordo com a UE e esteja suspenso do bloco desde 2017 — representam aproximadamente dois terços do PIB da América Latina e do Caribe.

As trocas comerciais entre os dois blocos, mesmo sem um acordo formal, já são muito intensas. A União Europeia é o principal parceiro do Mercosul. Segundo dados da própria Comissão Europeia, as exportações para países do bloco sul-americano dobraram nos últimos 10 anos e atingiram 46 bilhões de euros, ou cerca de 205,2 bilhões de reais.

Alguns setores argumentam que a formalização de um tratado de livre comércio entre os dois blocos abriria a porta para novos investimentos e aumentaria ainda mais esse índice, outros setores não veem esse acordo com bons olhos.

Uruguay's President Tabare Vazquez speaks during an economic seminar with Brazilian and Uruguayan businessmen in Sao Paulo, Brazil - Sputnik Brasil
Tabaré Vázquez: Uruguai não quer assinar um 'acordinho' entre Mercosul e UE
Representantes das indústrias do Brasil e da Alemanha assinaram uma carta em que defendem a conclusão do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.

O documento foi assinado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Federação das Indústrias Alemã (BDI) e pelo Conselho da Indústria Alemã para a América Latina (LADW). Para as entidades, existem condições políticas favoráveis para que o acordo seja firmado.

No entanto, o comissário europeu de Agricultura, Phil Hogan, disse nesta segunda-feira (16), em Bruxelas, que a União Europeia não está satisfeita com os progressos das negociações para o acordo comercial e descartou a hipótese de um pacto definitivo ser anunciado ainda nesta semana.

Hogan citou que há impasse em sete questões: carros, peças de veículos, regras de origem, licitações, serviços marítimos, produtos lácteos e indicações geográficas.

Também estão na lista de preocupações do Mercosul os temas relativos à carne bovina, ao açúcar e ao etanol. Mais recentemente entrou em discussão a pressão da União Europeia para reduzir o percentual das tarifas de importação de automóveis.

Google Bot sendo desclocado - Sputnik Brasil
Google recebe multa recorde na União Europeia
No início do mês a titular de Finanças austríaca, Margarete Schrambock, disse, em uma entrevista coletiva, que "é possível fazer muito mais" em termos de qualidade das propostas.

"A proposta sobre produtos comerciais, não só em agricultura, não foi suficientemente definida", disse a ministra.

Em abril, agricultores franceses protestaram contra a perspectiva de ter de competir com a carne brasileira e chegaram a derramar esterco e palha em avenidas do país. Se o acordo for concretizado, esse setor vai ter que competir contra 70 mil e 99 mil toneladas de carne bovina vindas da América do Sul sem tarifas alfandegárias.

Mas afinal, quais são as vantagens de um acordo desses para o Mercosul?

Perguntada sobre quais seriam os benefícios de um acordo entre os dois blocos, a economista, Juliana Inhaz, professora da FAAP, responde que o Mercosul conseguiria ampliar seus horizontes, desde que as "desvantagens sejam compensadas".

"Para o Mercosul seria interessante para que ele conseguisse ampliar um pouco os horizontes para a comercialização com outros países. Isso depende da maneira de como esse acordo for feito porque é importante que as vantagens sejam compensadas pelas desvantagens que eventualmente o acordo vai trazer", afirmou.

Já para o professor Istvan Kaznar, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), o acordo vai de encontro à concepção do Mercosul de ser um bloco comercial. Vale lembrar, que desde sua criação em 1991, o bloco não possui nenhum acordo do tipo.

"O Mercosul como organização comercial com todas as suas feições associadas a uma diplomacia econômica e unificação de interesses de países da América do Sul, ele precisa agir em bloco, ele complementa uma economia com a outra, então desse ponto de vista, a ideia de um acordo é um bom pensamento", comentou.

A instabilidade política na América do Sul é uma pedra no sapato do acordo?

Presidente Alain Berset quer negociar ampla pauta com o bloco sul-americano - Sputnik Brasil
Suíça quer dar um ‘chocolate’ em europeus e fechar antes acordo com o Mercosul
A construção de um acordo desse tamanho automaticamente demanda que os países envolvidos se comprometam a cumprir as exigências estabelecidas e que eventuais mudanças políticas não comprometam a continuidade do compromisso estabelecido.

Para Juliana Inhaz, a instabilidade política vivida no continente nos últimos anos faz com que outros países fiquem com o pé atrás antes de investirem em acordos bilaterais com países do Mercosul.

"Existem desconfianças da capacidade do Mercosul de realmente ter um fôlego para se posicionar no cenário internacional, isso coloca mesmo uma dúvida se o Mercosul é capaz de se estabelecer de novo nesse cenário de forma competitiva", disse.

O economista Iztvan Kaznar também explica que a instabilidade política também dificulta que um acordo seja firmado.

"Quando você vai olhando cada um desses países, Uruguai pequenino, Brasil no meio de uma mega crise desde 2015, você vê que o Mercosul se fragilizou demais e ele não possui estrutura para gerar aquele compromisso que se cria nas relações multilaterais do comércio mundial", explicou.

Por outro lado, a União Europeia tem olhado para as ações do presidente Donald Trump de romper com o acordo transpacífico, a guerra comercial com a China como uma forma de conseguir penetrar no cenário do comércio internacional.

Resta agora aguardar quem vai ceder mais e quem vai ganhar mais para saber se esse acordo vai realmente sair do papel.

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала