No entanto, seria um enorme erro considerar que isso significa "o que fazer, acontece, não há reclamações a fazer a ninguém". Tudo ao contrário. Este é aquele caso em que a frase do estadista soviético Lazar Kaganovich é bem atual: "Cada acidente tem um nome, um sobrenome e um cargo". Isto porque, em primeiro lugar, neste caso se trata da morte de 15 militares russos. Em segundo, porque é preciso saber por que tal sucessão de casualidades foi possível. E, terceiro, porque é necessário excluir que tais casualidades venham a acontecer futuramente.
Exatamente por isso, a posição que Israel apresentou ("os sírios dispararam indiscriminadamente e no geral não sabem usar sistemas de defesa aérea, todas as reclamações têm que ser dirigidas a eles") parece inaceitável não apenas para a Rússia. Em primeiro lugar, é inaceitável para o próprio Israel.
Contudo, a Rússia virou um "moderador da guerra" não apenas porque foi justamente com a sua ajuda que governo sírio conseguiu anular sua sentença de morte e vai recuperando o seu território metro a metro. Mas também porque, diferente dos EUA, que aspiravam ardentemente ao papel de árbitro, a Rússia realmente analisa, tem consciência e leva em consideração a soberania e os interesses das partes, entre os quais os de Israel.
A lista de casos em que a Rússia deu passos favoráveis ao Estado judaico foi anunciada várias vezes nos últimos dias: a mediação na retirada das forças pró-iranianas (que em Israel chamam de terroristas) das áreas perto do território de Israel; a suspensão do contrato já assinado de entrega à Síria de sistemas S-300, no valor total de 500 milhões de dólares, pois o raio de alcance destes sistemas cobria todo território israelense. A lista é longa. A Rússia tem mostrado com as suas ações que aprecia as relações com Israel e compreende a situação do Estado judaico. Porque para a Rússia não é preciso explicar o que significa estar rodeado de países "amigos", sofrer com o terrorismo e ouvir constantemente dizer que o país representa o mal.
Aqui há a ressaltar o seguinte. As Forças Armadas dos EUA, o alegado concorrente global e adversário oficial da Rússia, com a qual tem relações péssimas, seguem rigorosamente as regras da guerra síria e coordenam suas ações com os colegas russos.
No que diz respeito às Forças de Defesa de Israel, que não são adversários da Rússia e que têm relações construtivas e boas com Moscou, estas por motivos enigmáticos têm ousado fazer aquilo que até a potência nuclear não tem feito. Por exemplo, só informar a parte russa sobre uma operação em cada dez no território sírio. Ou, como no caso funesto do ataque a Latakia, informar sobre a operação apenas um minuto antes de esta começar.
E mais: após o que aconteceu, tentar provar "que os sírios são culpados de tudo e que estavam disparando errado" é simplesmente algo fora de propósito. Porque o objetivo da diplomacia militar consiste exatamente em primeiro lugar em garantir a segurança dos militares dos Estados que atuam na região. Supunha-se que essa segurança seria garantida por todos os lados participantes da diplomacia.
De fato, agora Israel deverá escolher entre duas opções simples. Ou ele assume a responsabilidade e se obriga a fazer com que suas operações jamais venham a provocar "casualidades trágicas" com aviões russos; ou o país se recusa a assumir a responsabilidade e, com isso, transfere para a Rússia a obrigação de garantir completamente a segurança dos seus militares, sem contar com qualquer acordo com Israel. De certa forma já está claro como isso pode ser feito: por exemplo, temos lido que os aliados da Síria têm sistemas de defesa aérea pouco avançados. Este é aquele caso em que a Rússia pode ajudar.
Viktor Marakhovsky para a Sputnik