Em um editorial do jornal China Daily, principal jornal estatal do país asiático, os chineses avisaram que criticar Pequim "pode servir para algum objetivo político específico, mas o custo econômico pode ser duro para a economia brasileira, que acaba de sair de sua pior recessão da história".
O texto também exalta que as exportações brasileiras "não apenas ajudaram a alimentar o rápido crescimento da China. Mas também apoiaram o forte crescimento do Brasil". Assim, não faz sentido, pelo ponto de vista de Pequim, a retórica agressiva do ex-capitão do Exército.
"Ainda que Bolsonaro tenha imitado o presidente dos EUA ao ser vocal e ultrajante para captar a imaginação dos eleitores, não existe razão para que ele copie as políticas de Trump", continuou o editorial, artifício já utilizado antes pelo governo chinês para mandar recados.
O texto, que parte de uma pergunta – "até que ponto o próximo líder da maior economia da América Latina vai afetar a relação Brasil-China?" –, chama Bolsonaro de "Trump Tropical" e ressalta que o presidente eleito poderia seguir a cartilha do atual morador da Casa Branca
"Além disso, ele [Bolsonaro] se mostrou menos que amistoso em relação à China durante a campanha. Ele apresentou a China como um predador buscando dominar setores-chave da economia brasileira", afirmou o editorial.
As dúvidas dos chineses sobre qual é o verdadeiro Bolsonaro com o qual terá de negociar – "que o Bolsonaro presidente coma naturalmente as palavras extremas do Bolsonaro candidato" –, e foram externadas em encontros de diplomatas e empresários chineses com assessores do ex-capitão ao longo da campanha presidencial.
Tanto Paulo Guedes, economista que deve ser o ministro da superpasta da Economia, quanto Onyx Lorenzoni, deputado federal que será o ministro-chefe da Casa Civil, já trataram de colocar panos quentes nas críticas de Bolsonaro aos chineses. O agronegócio, aliado importante do presidente eleito, tem a China como sua grande cliente e, assim, pode ter um papel relevante para o recuo das palavras do presidente brasileiro.
Um dia antes, outro jornal chinês, o Global Times, já havia publicado críticas à retórica de Bolsonaro. Segundo a publicação, o presidente eleito do Brasil depreciou injustamente a China na sua campanha, afirmando ser "inconcebível que o novo governo de Bolsonaro vá abrir mão do mercado chinês".
"A cooperação entre o China-Brasil é totalmente recíproca. A China é o maior parceiro comercial do Brasil e o maior superávit comercial do Brasil foi registrado com a China. Em 2017, o Brasil registrou superávit comercial de US$ 20 bilhões com a China, que também é o maior comprador de soja e de minerais brasileiros", destacou o texto.
A China também espera ouvir de Bolsonaro o que ele pensa a respeito de Taiwan, país que ele visitou e considerou independente da China, algo que Pequim considera inaceitável.