O animal batizado de Macrocollum itaquii foi descrito a partir de três esqueletos fossilizados escavados em rochas triássicas com 225 milhões de anos. Trata-se da primeira ocorrência de esqueletos completos de dinossauros no Brasil.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o paleontólogo do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rodrigo Temp Müller, ressalta a importância da descoberta para a paleontologia brasileira e mundial.
"Com o Macrocollun a gente passa a ter o primeiro dinossauro com esqueleto completo aqui no Brasil. Além disso, ele tem 225 milhões de anos e, para essa idade, no mundo todo, a gente não tinha nenhum esqueleto de dinossauro desse grupo completo. Então, ele tem uma importância internacional em relação a esse grau de completude da espécie", avalia o pesquisador da UFSM.
"Um tio meu encontrou um elemento que ele achou estranho em uma rocha. Ele entrou em contato com a minha mãe que me mandou as fotos e deu para notar que era uma vértebra fossilizada. Então eu acionei a nossa equipe de paleontologia e fomos até o local. Lá, a gente constatou que eram esqueletos fósseis que estavam aflorando no local", conta Rodrigo.
Nos últimos anos, o paleontólogo conta que a equipe de pesquisadores estudou os esqueletos e constatou que se trava de uma espécie ainda desconhecida de sauropodomorfos.
"Eles passaram pela análise de comparação. A gente comparou esses esqueletos ao de outros sauropodomorfos do mundo e constatamos que era uma espécie nova, com base em algumas características do esqueleto", explica.
A pesquisa realizada por Rodrigo Temp Müller, com os professores Max Cardoso Langer (USP) e Sérgio Dias da Silva (UFSM) resultou em um estudo publicado esta semana na conceituada revista acadêmica britânica Biology Letters.
A descoberta desses fósseis de 225 milhões de anos faz com que o novo dinossauro brasileiro passe a ser o mais antigo dinossauro de pescoço longo já descoberto em todo o mundo.
O achado ajuda ainda a cobrir uma lacuna na paleontologia. Segundo o pesquisador, existia um lapso histórico no registro fóssil de dinossauros, com vários esqueletos de idades um pouco mais antigas e um pouco mais recentes. O paleontólogo ressalta que a descoberta de fósseis desse período é importante para o entendimento da história evolutiva dos dinossauros, porque antecede o momento em que estes animais se tornaram dominantes em quase todo o planeta.
"Ele é muito importante porque ajuda a gente a entender como foi essa transição das faunas raras para a fauna abundante. Então ele ajuda a gente a preencher essa lacuna do conhecimento, trazendo muitas informações anatômicas novas. (…) Como o Macrocollun tem um esqueleto inteiro, a gente conseguiu traçar como as características desses animais mudaram", explica.
A pesquisa dos brasileiros traz detalhes de como seria o comportamento dessa espécie há 225 milhões de anos. A dentição do novo dinossauro indica que ele era um herbívoro, ou seja, se alimentava de plantas. Com isso, o pescoço longo, característico do grupo, pode ter permitido que esses animais alcançassem a vegetação mais alta, a qual outros animais que viviam na mesma época não eram capazes de alcançar. Essa habilidade dos sauropodomorfos provavelmente foi uma das principais responsáveis pelo sucesso do grupo durante a Era Mesozoica.
Os fósseis do Macrocollun itaquii ainda revelam outra novidade. O estudo indica que esses animais possivelmente andavam em grupos, um comportamento chamado de gregarismo. Segundo os pesquisadores, essa também é a mais antiga evidência desse tipo de comportamento em sauropodomorfos.
Os fósseis ficarão depositados no Centro de Apoio a Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (CAPPA/UFSM), na cidade da São João do Polêsine, onde estarão disponíveis para visitação tanto para pesquisadores, quanto para o público. A entrada é gratuita.