Hoje (27), a Rússia comemora o 75º aniversário da libertação de Leningrado do bloqueio nazista durante a Grande Guerra pela Pátria (parte da Segunda Guerra Mundial compreendida entre 22 de junho de 1941 e 9 de maio de 1945 e limitada às hostilidades entre a União Soviética e a Alemanha nazista e seus aliados) que durou quase dois anos e meio.
No primeiro mês de 1942, um dos mais frios do inverno russo, a cada dia morriam 265 bebês menores de um ano, enquanto a cidade mantinha uma alta taxa de natalidade, até 150 crianças por dia, embora o destino da maioria delas fosse trágico.
A Sputnik Mundo falou com Lyudmila sobre sua percepção dos terríveis anos do bloqueio da sua cidade natal, cheios de fome, sofrimento e grande quantidade de mortes.
Segundo a atriz, seu pai foi para a guerra, enquanto sua mãe grávida, sua irmã e sua avó ficaram na cidade. Durante o cerco, quando Lyudmila nasceu, elas tiveram que preparar comida com o que havia disponível.
"Quando minha mãe ficou sem leite materno, foi muito difícil. A mãe comprava no mercado cola natural em blocos semelhantes a sabão. Ela a cozinhava durante um dia inteiro e ele se transformava em geleia. E todos nós a comíamos", lembrou a atriz. "Mas eu era gordinha devido a essa geleia, embora coberta de úlceras", disse ela.
Segundo lhe contava sua mãe, foram anos terríveis. Nas ruas já não havia pássaros nem animais.
Lyudmila e sua família conseguiram deixar a cidade cercada através do "caminho da vida", a única rota de abastecimento de Leningrado que cruzava o lago Ladoga. No inverno, o lago congelou e salvou a vida de muitas pessoas. Entretanto, era um caminho muito perigoso porque o gelo nem sempre suportava o peso dos caminhões com as pessoas dentro.
"Minha mãe recolheu o pouco que nos restava, porque tínhamos queimado muitas das nossas coisas e mobílias para nos aquecermos. Fomos retirados [de Leningrado cercada]. Foi terrível. Perto de nós se afundaram caminhões com crianças e seus pais, mas nós tivemos sorte", lembrou ela.
A atriz recorda bem os tempos após o cerco, que também foram muito difíceis.
"Alguém nos enviou uma latinha com salsicha. Provei um pedacinho, depois mais um e mais dois e assim comi toda a lata. Eu entendi que estava fazendo algo terrível, porque também tinha uma irmã quatro anos mais velha, além da minha mãe, meu pai e minha avó. Minha mãe voltou para casa, eu estava histérica porque tinha comido tudo. Mas ela me tranquilizou e disse que iríamos sobreviver, que iríamos cozer alguma coisa", confessou Luydmila à Sputnik.
Cerca de 640.000 pessoas morreram durante o cerco de Leningrado. A maioria morreu devido à fome.
O maior problema era a quantidade de população a alimentar – mais de três milhões de cidadãos. Em vez de atacar a cidade, Hitler tomou a decisão meramente pragmática de bombardeá-la do ar e fazer com que as pessoas morressem de fome.
Contudo, os habitantes não se renderam e conseguiram aguentar quase dois anos e meio de cerco, embora com grandes perdas.
Em 18 de janeiro de 1943, o Exército soviético conseguiu romper o cerco de Leningrado e impedir o avanço das tropas alemãs.