A tragédia, que completou um mês na segunda-feira (25), ocorreu bem no começo do governo do presidente Jair Bolsonaro, que havia a poucos dias antes eliminado o Ministério do Meio Ambiente, encarregado de exercer este tipo de supervisão.
Durante entrevista à Sputnik Mundo, o pesquisador argentino Patricio Gómez Talavera disse que a Vale tem presença nacional e internacional, cujos lucros, em termos empresariais, são equivalentes aos da Petrobras.
"Talvez sirva como uma grande negação de que privatizar tudo é uma excelente e grande ideia. Como a Petrobras não foi privatizada, a Vale, exceto em 1997, 1998, 1999 e 2000, nunca teve lucros superiores aos da Petrobras, que permaneceu sendo estatal", acrescentou o analista especializado em política brasileira.
Para Talavera, professor da Universidade de Buenos Aires, esse processo foi complementado há uma década pela quase completa ausência de fiscalizações ambientais baseadas em duas causas: uma jurídica e outra econômico-financeira.
A razão jurídica teve relação com a diminuição nas exigências para que as empresas da categoria operassem no estado de Minas Gerais, o que veio de uma disposição do governo estadual. Enquanto que a causa econômico-financeira estava relacionada à crise econômica, que tirou o orçamento destinado a funcionários para as inspeções.
"A crise econômica implicou cortes de mais de R$ 1,3 bilhão [em fevereiro de 2018] no orçamento do Ministério do Meio Ambiente. Este ministério não existe mais por causa de uma decisão do governo de Bolsonaro", afirma o professor.
"Isso fez com que todos os promotores ambientais, todos os órgãos oficiais de controle tivessem problemas operacionais claros por falta de orçamento e, portanto, enfraqueceu a capacidade de realizar as fiscalizações com a necessária recorrência, número e intensidade", acrescentou.
A barragem da Mina do Feijão, localizada próxima a Brumadinho (a 57 quilômetros de Belo Horizonte), rompeu-se no dia 25 de janeiro e acaba de completar 30 dias. Até agora, 179 corpos foram resgatados da lama. Outras 131 pessoas continuam desaparecidas, segundo a Defesa Civil de Minas Gerais.
O Corpo de Bombeiros mineiro estima que os trabalhos de resgate devam se estender por mais dois ou três meses, além de afirmar que a busca não vai ser cessada enquanto todos os corpos não tiverem sido encontrados.