Na semana passada, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse aos jornalistas após uma conversa telefônica com o presidente russo, Vladimir Putin, que logo iniciaria conversações bilaterais com Moscou sobre um novo acordo de controle de armas nucleares que poderia incluir a China.
Karen Kwiatkowski, ex-analista do Pentágono, expressou à Sputnik Internacional sua opinião que a maneira como foi apresentado o chamado convite para as negociações pode ter algo a ver com a reação de Pequim.
"A resposta dos chineses soa como se eles se sentissem insultados, apontando que a China se comporta e espera que as grandes potências com armas nucleares se comportem com moderação", disse Kwiatkowski.
Kwiatkowski disse que a resposta da China parece altamente estilizada e quase ritualística.
"Foi uma espécie de resposta falsa a um convite falso. Levando em conta que os Estados não têm emoções […] Trump provavelmente terá intencionalmente e/ou estilisticamente insultado Xi Jinping em questões do comércio e práticas trabalhistas chinesas, proezas militares, agendas expansionistas na região [e] a Coreia do Norte", disse ela.
O convite mais recente surgiu como se uma potência superior estivesse convocando uma potência inferior – um papel que a China não reconheceu e não estava preparada para desempenhar perante Washington, explicou Kwiatkowski.
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Segundo a analista, os políticos americanos precisavam abandonar seus esforços para colocar e manter a China em um papel de subserviência e retornar a políticas comerciais mais abertas.
O próprio sistema chinês está agora em grande risco financeiro e econômico porque suas políticas domésticas eram insustentáveis e desperdiçadoras, comentou Kwiatkowski.
"Para fazer isso funcionar, Trump precisaria mostrar algum respeito público pelo papel da China no mundo, e talvez deixá-los conduzir uma dança de vez em quando", disse ela.
O analista Dan Lazare está de acordo com Kwiatkowski que a China estava agindo de forma direta e foi sincera em sua decisão de não querer se juntar às negociações nucleares propostas pelos EUA.
"Não vejo razão para que a declaração do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, não seja aceita como sincera", disse Lazare à Sputnik.
A China também tem poucas razões para participar das negociações devido à enorme disparidade entre seu arsenal nuclear e os dos EUA e da Rússia, sublinhou Lazare.
Lazare destacou que a China tem 280 ogivas nucleares, apenas 2% do total russo-americano.
"Então as negociações trilaterais com a China não fazem mais sentido do que negociações com a França (que tem 300 ogivas nucleares), o Reino Unido (que tem 215), o Paquistão (145) ou a Índia (135)", sublinhou o analista.
Depois de uma conversa telefônica com Vladimir Putin, Trump disse a repórteres que ambos os líderes falaram sobre a possibilidade de um novo acordo nuclear para "muito em breve" e que a China poderia ser acrescentada posteriormente.
Em janeiro de 2019, o governo de Trump anunciou que os EUA estavam oficialmente se retirando do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), alegando que a Rússia havia violado os termos do acordo de 1987. Abordando o assunto durante seu discurso sobre o Estado da União, Trump ressaltou que a Rússia "violou repetidamente" os termos do tratado, uma alegação que a Rússia rejeitou.
Após o anúncio da saída, o fiscalizador de resíduos radioativos da Beyond Nuclear, Kevin Kamps, disse à Sputnik que se o novo tratado START "também desaparecer, poderemos ver uma corrida armamentista entre todos esses países".