O exemplo mais recente desse impasse são as dez medidas provisórias que correm o risco de perder a validade se não forem votadas pelo Congresso Nacional nesta semana ou na próxima, incluindo a da reforma administrativa, que reduziu de 29 para 22 o número de ministérios.
"A corda está esticada demais, o governo começa a passar a impressão para o país que não consegue governar porque adota uma postura muito purista de não buscar negociar com o Congresso Nacional", disse o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio, em entrevista à Sputnik Brasil.
De acordo com o cientista político, a crise na relação do Palácio do Planalto com o Congresso Nacional ocorre por três aspectos. O primeiro deles é que Bolsonaro "demoniza o Congresso" ao associar todos os congressistas a uma maneira retrógada de fazer política.
O segundo aspecto está relacionado com o primeiro já que o bloco parlamentar chamado de "centrão", que reúne partidos como PP, PR, DEM e SD, não está gostando dessa postura e de uma certa maneira tem imposto derrotas ao presidente. A mais emblemática delas foi a convocação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, para dar explicações ao plenário da Câmara sobre os cortes no orçamento da pasta.
"É preciso encontrar outras alternativas porque simplesmente não conversar com o Congresso, ou simplesmente, estar sempre demonizando o congresso, rotulando o congresso de forças retrógradas, atrasadas, isso leva a paralisia decisória e a muitas derrotas como essa", disse Ismael citando as MPs.
Essa "paralisia", segundo Ricardo Ismael passa uma mensagem negativa para o mercado financeiro.
"Passa uma impressão cada vez para os atores econômicos que o ano não só estará perdido como o governo não tem como tomar as medidas necessárias para iniciar um novo ciclo de crescimento econômico", alertou.
As MPs são um instrumento com força de lei. Têm efeito imediato logo depois de publicadas pela Presidência da República. Mas, se não forem votadas por deputados e senadores em até 120 dias, perdem a validade.
Entre as MPs que podem perder validade estão algumas editadas ainda pelo governo Michel Temer e com impacto econômico relevante. Uma permite 100% de capital estrangeiro nas companhias aéreas, o que poderia atrair empresas para operar no país.