Em seu artigo para o Wall Street Journal, Sahil Mahtani escreve que a evolução dos mercados cambiais dos últimos 18 meses reflete a tendência de desdolarização.
Ele lembrou, por exemplo, que os contratos futuros de petróleo expressos em yuans, lançados no ano passado em Xangai, agora estão logo atrás do Brent e WTI em termos de volume de transações.
Outra evidência da desdolarização é que, no ano passado, os bancos centrais compraram o maior volume de ouro desde 1971, ano em que os EUA abandonaram o padrão ouro. A China está aumentando suas reservas do metal precioso pelo quinto mês consecutivo.
Mais uma passo contra a hegemonia do dólar tem sido o desenvolvimento pelo Reino Unido, a França e a Alemanha de um novo sistema de processamento de pagamentos para permitir realizar transações com o Irã. Segundo o autor do artigo, no início, esse sistema vai ser usado para fornecimento de ajuda humanitária, mas depois servirá para vender bens e serviços, competindo potencialmente com o sistema financeiro interbancário internacional SWIFT, controlado pelos EUA.
Segundo Mahtani, o uso crescente de sanções econômicas durante a presidência de Barack Obama e Donald Trump é a causa imediata da desdolarização. De fato, é Washington que, através da sua política de sanções, está empurrando outros países, incluindo seus aliados, para abandonarem o dólar e apostarem em outros ativos.
O aumento da produção de petróleo nos EUA também tem afetado as posições do dólar. Espera-se que, em 2025, os EUA ultrapassem a Arábia Saudita como o maior exportador de petróleo do mundo. Isso já fez baixar as importações americanas de petróleo em 25% desde 2010, e esse número continuará caindo. Isso é positivo em muitos aspectos para a economia americana, mas, se os EUA comprarem menos petróleo bruto aos outros países, enquanto as compras chinesas crescem, aumentará a probabilidade de as exportações de petróleo serem realizadas em outras moedas e não em dólares estadunidenses. As petrolíferas na Rússia, Irã e Venezuela já começaram a aceitar o yuan, a moeda chinesa. Se a Arábia Saudita se juntar a eles, os efeitos podem ser substanciais.
Até agora, a polarização política nos Estados Unidos tem implicado um déficit orçamentário causado pela redução de impostos e pelo aumento dos gastos com subsídios sociais. Previsões do Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA mostram que a dívida federal dos EUA atingirá 152% do PIB até 2048, em comparação com os 78% atuais. O déficit duplo dos EUA (dívida orçamental e déficit na conta corrente) é um bom indicador, com um atraso de dois anos, da fraqueza do dólar.
As flutuações cambiais significativas raramente são longas ou lentas. A libra esterlina da Grã-Bretanha permaneceu em uma certa "indolência" pós-colonial até o início dos anos 1970, quando ainda correspondia a cerca de um terço das reservas soberanas globais. No final dessa década turbulenta, já era menos de um vigésimo. Nos anos 1930, os países que abandonaram o padrão-ouro, como o Reino Unido e a Itália, registraram quedas nas taxas de câmbio ao longo de três-cinco anos. Mesmo o dólar perdeu quase metade de seu valor em relação ao marco alemão entre 1971 e 1978. A moeda estrangeira tornou-se tão cara que os soldados dos EUA estacionados na Alemanha no final da década recebiam encomendas de simpáticos alemães ocidentais.
O analista sublinha que, embora o dólar continue sendo a moeda mais popular, o surgimento do mundo multipolar significa que o próximo ciclo de mercado provavelmente será diferente e que o dólar americano acabará por ser derrubado do seu pedestal.