"Tudo continua ficando mais caro. Não temos mais nada. Só há dinheiro para comer", disse ela em entrevista à Agência Associated Press.
No entanto, seu extenso bairro paulistano de Paraisópolis, um aglomerado de tijolo e casas ao longo de ruas estreitas e labirínticas, fica quase à sombra do elegante bairro do Morumbi, onde as torres de apartamentos são cobertas por helipontos que deixam executivos ricos evitarem o tráfego confuso abaixo.
É um contraste que está se tornando mais intenso na economia estagnada do Brasil.
Um estudo divulgado este mês pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) concluiu que a principal medida de desigualdade de renda atingiu seu nível mais alto desde que a série começou há sete anos, com o Brasil entre os países mais desiguais de uma região mais ampla, onde a diferença entre ricos e pobres é notório.
O levantamento da organização de pesquisa descobriu que a renda da parte mais rica dos brasileiros aumentou em 8,5% nos últimos sete anos, enquanto a dos mais pobres caiu 14% — aparentemente porque o aumento do desemprego aumentou a competição por mão de obra pouco qualificada.
Marcelo Neri, diretor econômico da fundação, avaliou que a forte recessão que começou em 2014 tem sido um "concentrador de riqueza". O PIB caiu mais de 7% em 2015 e 2016, e aumentou apenas 1% nos últimos dois anos.
A pobreza também vem aumentando. O Instituto Geográfico do governo (IBGE) calcula que 54,8 milhões de brasileiros vivem na pobreza, cerca de 26,5% da população.
"A grande vítima [da recessão] é a população extremamente pobre, com pouca escolaridade, negra, que vive no norte, no nordeste e nas periferias das grandes cidades", disse Neri.
Neri destacou que a desigualdade sufocou o crescimento porque os setores mais pobres e vulneráveis da população são os que mais consomem.
Programas como os subsídios de renda para os pobres, introduzidos pelos governos anteriores, não foram expandidos para conter a crise econômica, disse Neri. "O Brasil esqueceu de cuidar de seus novos pobres".
Os investidores esperavam que o novo presidente Jair Bolsonaro, que assumiu o cargo em 1º de janeiro, revitalizasse rapidamente a economia com políticas favoráveis ao mercado. Até agora, não houve decolagem. O Ministério da Economia na semana passada rebaixou sua projeção de crescimento do PIB para este ano de 1,6% para 1,2%.
Agnailza de Jesus, mãe de dois filhos de 38 anos, tentou lidar com a crise convertendo sua sala de estar em Paraisópolis em um salão de beleza, porque não encontrou outro trabalho.
"Eu nunca fiquei desempregada por seis meses, a maioria foi de um ou dois meses e alguém me contava, ou eu veria um anúncio de emprego e eu pegaria", comentou. "Agora é muito difícil. Existem muitas pessoas sem trabalho".