Pela segunda vez em 15 dias, estudantes, professores e trabalhadores saíram às ruas das cidades do país e no exterior para protestar contra o corte de verbas para o ensino e a pesquisa. O Ministério da Educação reagiu, tentando coibir o movimento, afirmando que nenhuma instituição pública de ensino "tem prerrogativa legal para incentivar movimentos político-partidários e promover a participação de alunos em manifestações".
Sputnik Brasil conversou sobre o tema com Marcelo Castañeda, cientista social e professor da UFRJ.
Para ele, as manifestações superaram as expectativas, com boa adesão dos professores e uma "boa capilaridade entre diversos setores".
Por outro lado, ele não acredita em resultados imediatos após os atos.
"Acho que a sensibilidade do governo é nula, nesse momento", destacou.
"Eu tenho dúvidas que esse governo seja sensível a uma demanda desse tipo, a não ser que a gente consiga estabelecer uma mobilização permanente", disse o especialista. No entanto, em função da área estar "sendo atacada em primeiro lugar" pelo atual governo, a mobilização seria possível, pois a área de educação é "muito organizada".
Ele também criticou as declarações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que classificou o protesto de "coação" dos alunos por parte dos professores. Para ele, os estudantes foram mais responsáveis pelos protestos, e os professores seguiram a deixa.
"Eu acho que tem uma série de vetores de organização que vão muito além de uma estrutura verticalizada, na qual o mestre coage o discípulo a estar indo pra rua", explicou.
"Como diriam alguns, a gente às vezes tem a dificuldade de um aluno entregar o trabalho no dia correto, quanto mais fazer ele levantar e ir para uma manifestação", acrescentou.
"Os estudantes que estão conduzindo esses processos", concluiu, acrescentando a importância da participação dos sindicatos e da aderência da sociedade às pautas apresentadas que possibilitaram "atos marcantes".
Para Pedro Gorki, presidente da UBES – União Brasileira de Estudantes Secundaristas, marcou a importância dos atos contra os cortes do governo e avaliou de forma positiva a amplitude da mobilização em todo o país.
"Demos o recado que o estudante brasileiro não vai ficar calado, assistindo simplesmente a nossa educação ser cortada, nossas escolas sendo fechadas e o nosso sonho de Brasil ser jogado fora", declarou o interlocutor da Sputnik Brasil.
Ele destacou a presença maciça de secundaristas nas manifestações que qualificou de "feita por jovens e para jovens".
"As duas manifestações demonstraram que a educação é a pauta mais ampla que nós temos no nosso país", para além da dicotomia "direita e esquerda". Por isso, segundo ele, as ruas continuarão cheias até reverter os cortes na educação.
Para ele isso já está acontecendo, pois o governo vem demonstrando incômodo com os protestos.
"Achamos muito possível que isso aconteça", acrescentou.
Ele lembrou que, no dia 14 de junho, mais atos estão marcados, no âmbito de uma greve geral no país, ampliando a pauta da educação para cortes em outros setores e contra a reforma da Previdência.