Os estrangeiros beneficiados pela medida poderão ficar no Brasil por até 90 dias, com a possibilidade de prorrogar este prazo por mais 90 dias.
A medida, contudo, não é reciproca e os brasileiros continuarão precisando de vistos para entrar nos quatro países favorecidos pelo decreto do Bolsonaro.
A reciprocidade é uma ferramenta tradicional da diplomacia, que estabelece que benefícios e acordos devem ser de mão dupla. Quando da decisão de Bolsonaro, o Ministério do Turismo afirmou que a medida era um "um aceno que fazemos para países estratégicos no sentido de estreitar as nossas relações" e que a isenção de vistos para brasileiros pode vir no futuro.
O embaixador aposentado Jório Dauster afirma que é necessário "não ser hipócrita" e acredita que se os brasileiros tivessem isenção de visto nos países beneficiados pela medida "nós poderíamos encontrar uma situação desagradável para o Brasil, uma corrida de muita gente".
"Você vê que os brasileiros participam dessas aventuras brutais, pagando pessoas que na verdade são exploradores da miséria, que conduzem essas pessoas a entrada em países como Estados Unidos."
Dauster acredita que a medida pode fomentar o turismo e ajudar a diminuir o desemprego no Brasil, que atinge mais de 13 milhões de pessoas.
Enquanto o Brasil recebeu 6,6 milhões de turistas em 2018, apenas a Torre Eiffel, na França, teve 7 milhões de visitas no mesmo período, segundo levantamento do Poder360.
Bolsonaro chegou a afirmar nos Estados Unidos que "a maioria dos imigrantes não tem boas intenções". Diante da repercussão negativa, Bolsonaro recuou de sua declaração e classificou sua fala como um "equívoco".
Já Raquel Rocha, doutora em relações internacionais pela USP, ressalta que a isenção de vistos representa a perda de uma fonte de renda para a diplomacia em um momento de corte de gastos e que os benefícios são incertos.
Ela sublinha outra medida tomada sem contrapartida clara: a decisão do Brasil de abrir mão do tratamento diferenciado que os países em desenvolvimento recebem na Organização Mundial do Comércio (OMC) em troca do apoio de Washington à adesão do país à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
"São promessas muito ousadas e um cálculo que me parece muito amador, para não dizer outra palavra. Toda movimentação do governo Bolsonaro, especialmente em política externa, é sempre muito amador, parece que não fizeram a aula introdutória das relações internacionais."
Rocha ressalta que o momento é de "alinhamento automático" com os Estados Unidos e que essa medida é frágil porque Trump é "imprevisível."
Ainda de acordo com a doutora pela USP, o Brasil abre um precedente perigoso ao fornecer benesses sem contrapartida porque outros países podem pedir os mesmos benefícios.