Como implantação de fuzileiros dos EUA em novo porto australiano pode desestabilizar região?

© AFP 2023 / Francisco LeongFuzileiros Navais dos EUA desembarcam durante exercícios da OTAN em Pinheiro da Cruz, na costa sul de Lisboa, em 20 de outubro de 2015
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A Austrália planeja construir um novo porto em sua costa norte, em Glyde Point, com capacidade para receber grandes navios anfíbios de assalto dos EUA, informou a ABC.

Especialistas entrevistados pela Sputnik China não descartaram a possibilidade de entrada no novo porto de porta-aviões e submarinos americanos, bem como o uso da instalação para operações militares destinadas a conter a crescente presença da China na região.

A nova instalação naval em Glyde Point deve ficar localizada a 40 quilômetros da cidade australiana de Darwin – uma região portuária que já possui infraestrutura militar, usada por navios americanos.

Mais de 2.000 efetivos da infantaria naval dos EUA prestam serviço neste porto em uma base rotativa como parte da cooperação militar entre os dois aliados.

Controle da região?

Na opinião do especialista em geopolítica Konstantin Sokolov, a nova base servirá provavelmente para um número significativamente maior de militares americanos.

"Neste caso, estamos falando de preparar a base para as tropas de fuzileiros navais americanos, que são necessários precisamente para tomar ilhas, controlar o território […] Se as operações se limitassem a patrulhar esta região, então, é claro, o atual porto de Darwin seria suficiente, pois o patrulhamento é feito por destróieres e grandes lanchas", disse o analista, acrescentando que essa é uma forma de os aliados planejarem o controle da região de forma conjunta.

Para o especialista militar e cientista político Vladimir Evseev, a instalação proporcionará aos militares americanos capacidades adicionais para uma rápida deslocação de tropas, caso seja necessário, para o Sudeste Asiático, inclusive para o mar do Sul da China.

"O porto de águas profundas foi concebido para acomodar navios de diferentes classes. Claro que a presença dos EUA não se limitará aos navios de desembarque. O porto de águas profundas não exclui os porta-aviões e um porta-aviões é acompanhado por um grupo de ataque. Normalmente consiste em 1-2 submarinos nucleares polivalentes, 2-3 cruzadores e alguns destróires", ressaltou Evseev.

"A Austrália tem um estatuto livre de armas nucleares, mas é possível que ele possa ser violado, já que nenhum navio dos EUA será inspecionado. E se os navios do tipo Ohio começarem a entrar no porto, é altamente provável que tenham armas nucleares a bordo", complementou.

Ponto estratégico

O especialista observou que os relatos da mídia australiana sobre a construção do novo porto, com mais condições para a Marinha dos EUA, significa que o pessoal talvez venha a passar lá um período de aclimatação e treinamento adicional antes de ser enviado para o Sudeste Asiático.

Yevseyev ainda explica que a região é de interesse dos EUA pelo fato de estar muito perto de potenciais zonas de conflito, enquanto para a Austrália é conveniente pois existe uma ameaça crescente de o país ser arrastado para um conflito armado.

O diretor do Centro de Estudos Australianos de Shanghai, Chen Hong, também chamou a atenção para o fato de que a nova localização aumentará a capacidade de manobra das unidades militares dos EUA.

"O novo porto de águas profundas é principalmente concebido para fins comerciais, mas a sua localização e condições são tais que, obviamente, pode ser utilizado pelos militares. Se necessário, o Pentágono pode usá-lo para a entrada de grandes navios militares. Isso fortalecerá a presença militar dos EUA na região e poderá mudar o equilíbrio de poder no futuro […] Darwin é um ponto importante no sul do arco estratégico Indo-Pacífico, e é muito importante para a presença militar dos EUA no Pacífico Ocidental", destaca.

© AP Photo / Lance Cpl. Jered StoneFuzileiros navais dos EUA operando veículos anfíbios durante manobras (foto de arquivo)
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Fuzileiros navais dos EUA operando veículos anfíbios durante manobras (foto de arquivo)

Hong esclarece que, por Pequim manter uma "cooperação econômica e de investimento mutuamente benéfica com os países do Pacífico Sul", isso causa descontentamento em Washington, que tenta enfraquecer a presença e influência chinesas na região.

Como parte da mesma estratégia no Indo-Pacífico, Washington e Camberra recentemente anunciaram planos para restaurar uma base militar conjunta na ilha de Manus, situada na Papua-Nova Guiné. Espera-se que os detalhes da construção do novo porto em Glyde Point possam ser anunciados já nas próximas semanas.

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