Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o diplomata iraniano – que está no Brasil desde fevereiro de 2017 – relembrou que o Irã tem relações históricas com o país, e se relacionou bem com governos de vários prismas ideológicos.
Contudo, Saghaeyan ponderou que tudo pode mudar em uma velocidade muito alta.
"Construir uma relação forte e amigável entre países leva tempo e precisa de muito investimento. Mas é possível destruir essa relação muito fácil e rapidamente", declarou o embaixador iraniano ao jornal.
"Eu acho que o Brasil e o Irã, até agora, têm demonstrado a maturidade e vontade de construir essa relação. Achamos que é do interesse das duas nações que os governos superem as diferenças políticas e ideológicas e se concentrem em uma perspectiva construtiva e pragmática", acrescentou.
Sobre a aproximação do presidente Jair Bolsonaro com os EUA e com Israel, Saghaeyan minimizou o alinhamento ideológico do governo brasileiro, afirmando que os problemas regionais no Oriente Médio estão "muito distantes geograficamente desta parte do mundo".
O diplomata queixou-se das sanções dos EUA que "impõem pressões sobre o dia a dia dos iranianos" e atrapalham transações financeiras da República Islâmica. Sobre isso, o embaixador falou das relações comerciais entre Brasil e Irã, que chegaram a US$ 1,1 bilhão entre janeiro e maio deste ano.
"O Irã tem sido um dos maiores compradores de carne bovina, milho, soja, sementes e trigo do Brasil. Nenhuma das sanções proíbe diretamente a compra de alimentos e remédios —por isso tivemos um aumento significativo nas compras de soja americana neste ano, por exemplo. Mas há alguns problemas bancários devido às sanções. Na nossa visão, o governo brasileiro poderia lidar com esses problemas bancários para que possamos manter nossas importações agrícolas do Brasil, sem ter que pensar em outras fontes para nossas necessidades", avaliou.
Saghaeyan também não deu grande importância ao fato do chanceler brasileiro Ernesto Araújo ter participado de um evento na Polônia, liderado por EUA e Israel, para debater a suposta ameaça representada pelo Irã no Oriente Médio.
"Como o chanceler Ernesto Araújo disse na Fiesp no dia 8 de abril, o Brasil tem um grande comércio com o Irã e quer mantê-lo e expandi-lo. Apesar dessa situação, o comércio entre Irã e Brasil vem se mantendo, e até se ampliando", concluiu.