As Nações Unidas divulgaram um relatório mostrando que Brasil é o segundo país em taxa de homicídios na América do Sul , ficando atrás somente da Venezuela. O autor desse estudo foi o escritório sobre Drogas e Crimes da ONU.
A organização internacional especializada surgiu no atual formato em 1997. É uma agência relativamente nova com sede em Viena e está estabelecida no Brasil desde 1991, quando a ainda fazia parte do Programa de Controle de Drogas das Nações Unidas.
Sputnik Brasil conversou sobre o tema com Nivio Nascimento, coordenador da Unidade de Estado de Direito da UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), que explicou que o estudo está sendo publicado com a regularidade de dois em dois anos.
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— UNODC Brasil (@unodcprt) 9 de julho de 2019
Segundo o estudo, relativo ao ano de 2017, a América Central e América do Sul registram os mais altos índices, com 25,9 e 24,2 assassinatos por cada 100 mil habitantes. O Brasil, nessa lista, ficou em segundo lugar no continente sul-americano, atrás da Venezuela, com 30,5 mortes, acima da média regional.
"O relatório mostra que o Brasil é primeiro em números absolutos. Não há nenhum país no mundo onde se morra tanta gente no mesmo país", disse o funcionário do escritório da ONU.
"Naturalmente, quando fazemos as taxas por 100 mil, o Brasil, mundialmente, não é nem o primeiro, nem o segundo...ele está atrás da Venezuela em relação da América do Sul, no quesito das taxas, mas é um país com alta letalidade e isso preocupa", acrescentou o pesquisador.
Embora apontar as razões que explicam o nível de violência seja da competência dos respectivos governos, a pesquisa chama a atenção para alguns fatores que podem ser avaliados por si só.
"O relatório, por exemplo, aponta que Brasil, México e Venezuela tem várias características em comum, incluindo as altas taxas de homicídio. Os três estão na América Latina, os três estão entre os países com maiores taxas de homicídio no mundo, os três foram profundamente afetados por instabilidade econômica e social nas últimas décadas. E ainda que esses três países tenham experimentado reduções ou decréscimos mais ou menos expressivos nas últimas duas décadas, as taxas atuais ainda preocupam", afirmou o Nascimento.
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De todo modo, "um dos objetivos do relatório é mostrar e incitar um debate nacional sobre o tema", ponderou o entrevistado. O coordenador da UNODC destacou que os homicídios relativos aos crimes cotidianos matam muito mais que as guerras e os atos terroristas.
"Ao contrário do que muita gente pensa. Há um senso comum que frequentemente ouvimos de que o Brasil vive uma guerra. Se vivêssemos uma guerra, talvez tivéssemos menos mortos. Essa é a constatação que o relatório chega", disse Nivio Nascimento.
Segundo ele, entre 1990 e 2017, todos os conflitos armados no mundo mataram 2 milhões 250 mil pessoas. Já os homicídios relacionados à criminalidade cotidiana mataram 11 milhões 770 mil pessoas no mesmo período.
Além disso, entre 2000 e 2017, os conflitos armados levaram a vida de 1 milhão de pessoas. No mesmo recorte de tempo, o crime organizado no mundo todo também foi responsável por 1 milhão de mortos.
Esses dados, para o especialista, servem para "qualificar um pouco mais esse debate", para repensar a ótica sobre as responsabilidade e as medidas que podem ser adotadas no sentido de realmente reduzir o número de homicídios no mundo e no país.