Assinado após décadas de negociações, o acordo entre o bloco latino e o europeu tem potencial para aproximar as economias com a promessa de reduzir tarifas, impostos e burocracias. Para entrar em vigor, contudo, ele ainda precisa ser ratificado pelo Parlamento Europeu e o Congresso dos quatro países membros do Mercosul — o que deverá tomar anos.
Para abreviar essa tramitação, Brasil, Uruguai e Paraguai defendem que ele entre em vigor após aprovação do Parlamento Europeu e do Congresso de cada país do Mercosul, sem a necessidade de uma posição unânime. O apoio é ainda mais enfático porque o líder nas pesquisas para as eleições presidenciais deste ano na Argentina, Alberto Fernández, disse que pretende revisar o pacto porque ele condena os latinos a um processo de "desindustrialização".
"Caso se concretize o que supomos que ele é – que nós vendamos produtos primários e eles nos vendam produtos industriais – teremos que revisá-lo, sem nenhuma dúvida", disse Fernández.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Mariano ressalta que há um temor de que uma possível eleição de Fernández impeça que o acordo entre em vigor e que a possibilidade de acordos comerciais sem a concordância de todos os países é um dos temas centrais da 54ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul que foi encerrada nesta quarta-feira (17).
Estudiosa do Mercosul, a professora da Unesp diz que mudar a estrutura do bloco para facilitar a entrada em vigor do acordo com os europeus irá afetar a integração regional:
"Isso romperia com a ideia da integração, porque a ideia é o bloco trabalhando conjuntamente. Na medida que isso é levado adiante, pode fragilizar o bloco. O fato de exigir consenso leva a uma maior negociação entre os países, se eu posso desconsiderar a opinião dos outros, qual é a lógica e integração?"
Ela também relembra que a Comunidade Andina (bloco formado por Bolívia, Colômbia, Equador e Peru) passou por um processo semelhante quando negociou um acordo com a União Europeia. Enquanto Colômbia e Peru apoiavam o acordo, Bolívia e Equador faziam oposição, ressalta a professora da Unesp. A solução adotada foi a União Europeia fazer acordos comerciais bilaterais com cada um dos países.