Se for possível pôr fim à guerra na Líbia, como será? Chanceler das forças de Haftar explica

© AFP 2023 / ABDULLAH DOMAExército Nacional da Líbia (LNA)
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Em 14 de julho de 2019, a agência Sputnik conseguiu gravar na cidade líbia de Benghazi uma entrevista exclusiva com Abdelhadi Ibrahim Lahweej, ministro das Relações Exteriores do Exército Nacional da Líbia (LNA, na sigla em inglês) liderado por Khalifa Haftar.

No momento da entrevista, o LNA tinha lançado outra ofensiva contra Trípoli, no contexto da operação para libertação da capital lançada a 4 de abril, e as forças das milícias estavam a recuar gradualmente.

Abdelhadi Ibrahim Lahweej disse à Sputnik França que o objetivo do LNA é libertar a capital dos "que a tomaram", referindo-se ao Governo do Acordo Nacional (GNA).

"Não temos problemas com os nossos compatriotas que estão em Trípoli. O Exército não tem qualquer intenção de governar pela força, nem Trípoli nem a Líbia. O único objetivo é restaurar o Estado, a segurança e a estabilidade", disse Ibrahim Lahweej.

De acordo com o ministro, hoje "Trípoli é uma prisão ao ar livre. Nem sequer os migrantes foram poupados".

Tráfico de seres humanos

Como observou Abdelhadi Ibrahim Lahweej, o exército de Haftar está tentando pôr fim ao caos criado pelos grupos armados e milícias e "promover os direitos civis e as liberdades individuais, bem como o respeito pelos direitos humanos".

"Estamos em 2019, no terceiro milénio. Infelizmente, ainda existem os que se dedicam ao tráfico de seres humanos e escravizam os nossos irmãos e irmãs africanos. Isso é uma vergonha para os líbios. Tanto mais que isso não é uma característica da sua cultura ou de seu modo de vida", disse ele.

É por esta razão que a operação de Haftar para libertar Trípoli continua, disse ele.

Ataque aéreo contra um campo de migrantes

Recorde-se que a comunidade internacional em geral, e a União Africana em particular, condenaram o ataque aéreo de 2 de julho contra um campo de migrantes perto de Trípoli. De acordo com a missão da ONU na Líbia, 50 pessoas foram mortas e mais de 100 ficaram feridas em resultado do ataque.

Abdelhadi Ibrahim Lahweej explicou a quem este crime beneficia e se o LNA realmente "falhou o alvo", como sugeriu o GNA?

"Em primeiro lugar, queremos expressar a nossa tristeza pela morte destas pessoas e as nossas condolências às suas famílias. Este é um acontecimento terrível e uma tragédia humanitária. Infelizmente, o chamado governo Sarajah está usando africanos e migrantes como escudos humanos", disse o ministro.

Segundo ele, o governo de Sarajah está a utilizar os centros de acolhimento de migrantes como depósitos de armas. Além disso, eles estão forçando esses migrantes a usar uniformes militares para usá-los em guerras.

Escudos humanos

Por outras palavras, o exército de Haftar determinou que o campo de migrantes eram grandes depósitos de armas, mas, segundo o ministro, é evidente que não queriam atingir civis, qualquer que seja sua origem.

"Estes migrantes são nossos irmãos. São tão africanos como nós", mas ele acrescentou que a existência de tais centros é ilegal e que não há critérios para determinar o que são. No entanto, a resposta final sobre se a anterior falha do exército de Haftar foi mesmo isso, ainda está sendo investigada.

Atitude em relação aos estrangeiros

Abdelhadi Ibrahim Lahweej afirmou também que o exército líbio e o governo de Haftar rejeitam agir contra civis, independentemente da sua nacionalidade.

"Considerando que um dos objetivos da operação em Trípoli era libertar os africanos que são vendidos em alto mar e que, infelizmente, tornam-se comida para peixes. Esse é um dos nossos objetivos", acrescentou.

Como observou o ministro, o governo de Haftar atribui grande importância à dignidade de cada cidadão nas regiões onde está presente e entende um tratamento adequado dos migrantes como parte das responsabilidades e obrigações para com os outros.

"Além disso, nós não acertamos contas com pessoas oriundas de países com os quais temos dificuldades. Por exemplo, temos muitos problemas nas nossas relações com a Turquia, mas aqui vivem turcos, adquirem propriedades e trabalham tranquilamente. Nós distinguimos o aspecto político e o aspecto jurídico e o humanitário", acrescentou.

A lei líbia estabelece que qualquer pessoa que entre ilegalmente no país deve ser expulsa, enquanto os apoiantes de Haftar exigiram que a situação dos migrantes fosse resolvida e que eles até pudessem encontrar trabalho, disse o ministro.

Sobre o apoio da França

Entre outras coisas, Abdelhadi Ibrahim Lahweej revelou se o marechal Haftar tem o apoio da França e se esta lhe fornece armas, o que é interessante saber, tendo em conta o facto de terem sido encontradas armas em Gharyan.

"Quanto à venda de armas, claro que não. Isso não é verdade. As armas encontradas em Gharyan foram fornecidas em 2011. Essas são armas inutilizadas. A França, um país de democracia e liberdade, não tomaria o partido das milícias e de indivíduos à margem da lei.

O ministro acrescentou que se pode confiar na ministra das Forças Armadas da França, Florence Parly, que disse em uma entrevista à FranceInfo na sexta-feira, 12 de julho, que os mísseis encontrados na base do LNA no acesso a Trípoli foram "armazenados no local em que deveriam ser destruídos" e que "eles nunca foram entregues a ninguém".

Oportunidades de diálogo

Significativamente, o ministro anunciou planos para iniciar um diálogo nacional inclusivo quando Haftar, que planeja avançar para a reconciliação nacional inclusiva, libertar a capital e nenhuma parte for excluída.

"Somos a favor do diálogo, somos contra a guerra, mas quando a capital for libertada das milícias e do caos das armas, estaremos prontos para tudo, inclusive para a realização de eleições e transição para a democracia", afirmou.

Assim, o lado de Haftar não se recusa a dialogar. Mas desde que os mediadores garantam a desmilitarização e desmobilização das milícias. Note-se que os governos da Tunísia e de alguns países europeus trabalham há muito tempo para a retoma do "diálogo político" na Líbia e para "pôr fim à animosidade entre grupos rivais".

Mediadores internacionais

Na ordem do dia também está a possibilidade de haver hoje um diálogo entre Trípoli e Benghazi sob os auspícios da ONU.

Abdelhadi Ibrahim Lahwee disse que os apoiantes do Haftar convidarão a ONU, a União Africana e os países vizinhos a participar do diálogo nacional e da reconciliação nacional. Mas diz que, até agora, ainda não ouviram falar de um plano da ONU para desmilitarizar as milícias.

"O que fez a ONU pelos líbios que morrem todos os dias? Pelos militares líbios feridos que morrem nos hospitais?” Segundo Abdelhadi Ibrahim Lahwee, a ONU não está a responder de nenhuma forma ao assassínio de civis.

Participação da Rússia

O representante especial da Liga dos Estados Árabes na Líbia, Slaheddine Jammali, também apelou a um maior envolvimento da Rússia no conflito e Abdelhadi Ibrahim Lahwee também partilha essa opinião.

"Concordamos com ele. A Rússia é um grande país, é membro do Conselho de Segurança. Queremos que a Rússia desempenhe um papel muito importante na resolução da crise líbia. Dado que não tem um passado colonial, sua participação é bem-vinda", comentou.

Segundo o ministro, os apoiantes de Haftar gostariam de ver um papel da Rússia mais visível, pois trata-se de um Estado historicamente amigo e com o qual a Líbia mantém relações estratégicas e importantes em vários domínios.

Crise na Líbia

Desde 2011, ano do derrube do governo e do assassinato de Muammar Kadhafi, a Líbia tem vivido no caos. O território líbio está fragmentado entre vários grupos rivais. Em Trípoli está o GNA, presidido por Fayez Sarraj e reconhecido pela ONU.

No leste, o povo elegeu um parlamento, a Câmara dos Representantes. Ela goza do apoio do LNA, sob comando do marechal Khalifa Haftar, e procura alterar o equilíbrio de forças a seu favor. Em 4 de abril de 2019, o exército de Haftar lançou uma ofensiva contra Trípoli.

Eles são combatidos pelas milícias leais ao governo de Sarajah, que estão realizando a operação Vulcão da Ira. Segundo dados divulgados pela ONU em 12 de julho, os confrontos já mataram mais de mil pessoas, incluindo 106 civis, e feriram mais de 5.000.

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