No momento da entrevista, o LNA tinha lançado outra ofensiva contra Trípoli, no contexto da operação para libertação da capital lançada a 4 de abril, e as forças das milícias estavam a recuar gradualmente.
Abdelhadi Ibrahim Lahweej disse à Sputnik França que o objetivo do LNA é libertar a capital dos "que a tomaram", referindo-se ao Governo do Acordo Nacional (GNA).
"Não temos problemas com os nossos compatriotas que estão em Trípoli. O Exército não tem qualquer intenção de governar pela força, nem Trípoli nem a Líbia. O único objetivo é restaurar o Estado, a segurança e a estabilidade", disse Ibrahim Lahweej.
De acordo com o ministro, hoje "Trípoli é uma prisão ao ar livre. Nem sequer os migrantes foram poupados".
Tráfico de seres humanos
Como observou Abdelhadi Ibrahim Lahweej, o exército de Haftar está tentando pôr fim ao caos criado pelos grupos armados e milícias e "promover os direitos civis e as liberdades individuais, bem como o respeito pelos direitos humanos".
"Estamos em 2019, no terceiro milénio. Infelizmente, ainda existem os que se dedicam ao tráfico de seres humanos e escravizam os nossos irmãos e irmãs africanos. Isso é uma vergonha para os líbios. Tanto mais que isso não é uma característica da sua cultura ou de seu modo de vida", disse ele.
É por esta razão que a operação de Haftar para libertar Trípoli continua, disse ele.
Ataque aéreo contra um campo de migrantes
Recorde-se que a comunidade internacional em geral, e a União Africana em particular, condenaram o ataque aéreo de 2 de julho contra um campo de migrantes perto de Trípoli. De acordo com a missão da ONU na Líbia, 50 pessoas foram mortas e mais de 100 ficaram feridas em resultado do ataque.
Abdelhadi Ibrahim Lahweej explicou a quem este crime beneficia e se o LNA realmente "falhou o alvo", como sugeriu o GNA?
"Em primeiro lugar, queremos expressar a nossa tristeza pela morte destas pessoas e as nossas condolências às suas famílias. Este é um acontecimento terrível e uma tragédia humanitária. Infelizmente, o chamado governo Sarajah está usando africanos e migrantes como escudos humanos", disse o ministro.
Segundo ele, o governo de Sarajah está a utilizar os centros de acolhimento de migrantes como depósitos de armas. Além disso, eles estão forçando esses migrantes a usar uniformes militares para usá-los em guerras.
Escudos humanos
Por outras palavras, o exército de Haftar determinou que o campo de migrantes eram grandes depósitos de armas, mas, segundo o ministro, é evidente que não queriam atingir civis, qualquer que seja sua origem.
"Estes migrantes são nossos irmãos. São tão africanos como nós", mas ele acrescentou que a existência de tais centros é ilegal e que não há critérios para determinar o que são. No entanto, a resposta final sobre se a anterior falha do exército de Haftar foi mesmo isso, ainda está sendo investigada.
Atitude em relação aos estrangeiros
Abdelhadi Ibrahim Lahweej afirmou também que o exército líbio e o governo de Haftar rejeitam agir contra civis, independentemente da sua nacionalidade.
"Considerando que um dos objetivos da operação em Trípoli era libertar os africanos que são vendidos em alto mar e que, infelizmente, tornam-se comida para peixes. Esse é um dos nossos objetivos", acrescentou.
Como observou o ministro, o governo de Haftar atribui grande importância à dignidade de cada cidadão nas regiões onde está presente e entende um tratamento adequado dos migrantes como parte das responsabilidades e obrigações para com os outros.
"Além disso, nós não acertamos contas com pessoas oriundas de países com os quais temos dificuldades. Por exemplo, temos muitos problemas nas nossas relações com a Turquia, mas aqui vivem turcos, adquirem propriedades e trabalham tranquilamente. Nós distinguimos o aspecto político e o aspecto jurídico e o humanitário", acrescentou.
A lei líbia estabelece que qualquer pessoa que entre ilegalmente no país deve ser expulsa, enquanto os apoiantes de Haftar exigiram que a situação dos migrantes fosse resolvida e que eles até pudessem encontrar trabalho, disse o ministro.
Sobre o apoio da França
Entre outras coisas, Abdelhadi Ibrahim Lahweej revelou se o marechal Haftar tem o apoio da França e se esta lhe fornece armas, o que é interessante saber, tendo em conta o facto de terem sido encontradas armas em Gharyan.
"Quanto à venda de armas, claro que não. Isso não é verdade. As armas encontradas em Gharyan foram fornecidas em 2011. Essas são armas inutilizadas. A França, um país de democracia e liberdade, não tomaria o partido das milícias e de indivíduos à margem da lei.
O ministro acrescentou que se pode confiar na ministra das Forças Armadas da França, Florence Parly, que disse em uma entrevista à FranceInfo na sexta-feira, 12 de julho, que os mísseis encontrados na base do LNA no acesso a Trípoli foram "armazenados no local em que deveriam ser destruídos" e que "eles nunca foram entregues a ninguém".
Oportunidades de diálogo
Significativamente, o ministro anunciou planos para iniciar um diálogo nacional inclusivo quando Haftar, que planeja avançar para a reconciliação nacional inclusiva, libertar a capital e nenhuma parte for excluída.
"Somos a favor do diálogo, somos contra a guerra, mas quando a capital for libertada das milícias e do caos das armas, estaremos prontos para tudo, inclusive para a realização de eleições e transição para a democracia", afirmou.
Assim, o lado de Haftar não se recusa a dialogar. Mas desde que os mediadores garantam a desmilitarização e desmobilização das milícias. Note-se que os governos da Tunísia e de alguns países europeus trabalham há muito tempo para a retoma do "diálogo político" na Líbia e para "pôr fim à animosidade entre grupos rivais".
Mediadores internacionais
Na ordem do dia também está a possibilidade de haver hoje um diálogo entre Trípoli e Benghazi sob os auspícios da ONU.
Abdelhadi Ibrahim Lahwee disse que os apoiantes do Haftar convidarão a ONU, a União Africana e os países vizinhos a participar do diálogo nacional e da reconciliação nacional. Mas diz que, até agora, ainda não ouviram falar de um plano da ONU para desmilitarizar as milícias.
"O que fez a ONU pelos líbios que morrem todos os dias? Pelos militares líbios feridos que morrem nos hospitais?” Segundo Abdelhadi Ibrahim Lahwee, a ONU não está a responder de nenhuma forma ao assassínio de civis.
Participação da Rússia
O representante especial da Liga dos Estados Árabes na Líbia, Slaheddine Jammali, também apelou a um maior envolvimento da Rússia no conflito e Abdelhadi Ibrahim Lahwee também partilha essa opinião.
"Concordamos com ele. A Rússia é um grande país, é membro do Conselho de Segurança. Queremos que a Rússia desempenhe um papel muito importante na resolução da crise líbia. Dado que não tem um passado colonial, sua participação é bem-vinda", comentou.
Segundo o ministro, os apoiantes de Haftar gostariam de ver um papel da Rússia mais visível, pois trata-se de um Estado historicamente amigo e com o qual a Líbia mantém relações estratégicas e importantes em vários domínios.
Crise na Líbia
Desde 2011, ano do derrube do governo e do assassinato de Muammar Kadhafi, a Líbia tem vivido no caos. O território líbio está fragmentado entre vários grupos rivais. Em Trípoli está o GNA, presidido por Fayez Sarraj e reconhecido pela ONU.
No leste, o povo elegeu um parlamento, a Câmara dos Representantes. Ela goza do apoio do LNA, sob comando do marechal Khalifa Haftar, e procura alterar o equilíbrio de forças a seu favor. Em 4 de abril de 2019, o exército de Haftar lançou uma ofensiva contra Trípoli.
Eles são combatidos pelas milícias leais ao governo de Sarajah, que estão realizando a operação Vulcão da Ira. Segundo dados divulgados pela ONU em 12 de julho, os confrontos já mataram mais de mil pessoas, incluindo 106 civis, e feriram mais de 5.000.