Segundo especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil, o novo acordo – que obrigaria o Paraguai a adquirir eletricidade de Itaipu por um preço maior do que o atual – iria corrigir o que eles classificaram como "prejuízo" ao Brasil, porém as repercussões para a população local seriam muito impactantes.
"[O acordo] foi muito ruim para eles, mas quando foi feito lá no passado, quando o Brasil era lesado, ninguém reclamou. Agora, quando você reverte e diz que tem que ficar equivalente para os dois, de fato para o Paraguai é muito pesado. Diz-se que, segundo esse acordo, o Brasil se comprometeria a fazer duas pontes para compensar esse acordo, sobre os rios Paraná e Paraguai. Esse acordo estaria estimado em perto de R$ 1 bilhão, mas mesmo assim...", avaliou o professor de Engenharia Elétrica da Universidade Presbiteriana Mackenzie, José Roberto Soares.
Também à Sputnik Brasil, o diplomata Luiz Augusto Castro Neves, que foi embaixador do Brasil no Paraguai entre 2000 e 2004, e que atualmente preside o Conselho Empresarial Brasil-China, destacou que conhece o chanceler paraguaio Luis Alberto Castiglioni, o presidente da Administração Nacional de Eletricidade (ANDE), Alcides Jiménez, o embaixador paraguaio em Brasília, Hugo Saguier, e o presidente da Itaipu Binacional, José Alberto Alderete. O quarteto colocou os seus cargos à disposição após o polêmico acordo, que gerou forte reação no Paraguai.
Na opinião do diplomata brasileiro, as saídas deles de seus postos – ainda não confirmadas oficialmente por Assunção – podem integrar um plano estratégico dos paraguaios, que alegam que teriam um prejuízo de R$ 300 milhões, caso o acordo negociado fosse colocado em prática – o que significaria ainda um aumento de 30% na conta de luz para a população local.
"O curioso é que o prejuízo significa que eles vão pagar mais caro, tanto quanto a gente paga, até R$ 300 milhões é uma cifra vaga. Eu conheço as pessoas envolvidas, o Hugo é um velho amigo meu, e não sei os que terá motivado essa atitude. Me parece que possa ter sido uma atitude para forçar uma negociação", opinou Neves.
Os dois analistas ouvidos pela Sputnik Brasil enfatizaram que o Paraguai sempre procurou utilizar a sua metade da energia produzida por Itaipu mais como uma commodity, a ser revendida para o Brasil como parte do acordo firmado nos anos 1970, do que utilizá-la para abastecer a rede elétrica local.
Com a aproximação de 2023, ano em que está prevista a renegociação das bases do acordo da usina binacional, a tendência é que os dois lados se sentem à mesa para renegociar os termos, buscando um denominador comum. O ex-embaixador brasileiro em Assunção relembrou que os dois países já tiveram discordâncias no passado, mas sempre se chegou a um acerto.
"Itaipu talvez seja a maior fornecedora de renda para o Paraguai, assim como é uma grande fornecedora de energia para o Brasil. O Estado paraguaio por muito tempo não se interessou em utilizar a energia gerada por Itaipu, ele preferia usar outras fontes, como a hidrelétrica de Acaraí, próximo de Itaipu. Eu acredito que as partes irão retomar as negociações e irão chegar a um acordo", sentenciou Neves.
O professor de Engenharia Elétrica da Universidade Presbiteriana Mackenzie concordou que os dois países precisam negociar, mas lembrou que a base energética brasileira é bastante diversificada, algo que pode favorecer o lado do Brasil na mesa de negociação com os paraguaios.
"O Paraguai não pode mais falar que não quer mais essa energia de Itaipu. O que eles têm que fazer é conversar e ver como seguirá sendo feita essa oferta de energia de forma que não se cause um prejuízo tão grave aos comerciantes e à população [...]. A nossa matriz energética é enorme, não é baseada apenas em hidrelétricas. Temos gás, temos a cana de açúcar... a quantidade de energia que o Brasil produz é muito intensa e variada. O Brasil até que está muito bem", concluiu Soares.