Depois de quatro anos de governo Macri, o kirchnerismo voltou à cena política neste domingo (11). Alberto Fernández e Cristina Kirchner, sua vice, comemoraram a vitória nas primárias argentinas e chegam como favoritos para as eleições presidenciais, cujo primeiro turno será realizado no dia 27 de outubro.
Alberto Fernández recebeu 47% dos votos no pleito, contra 32% de Mauricio Macri. Vale lembrar que nas primárias de 2015 a chapa de Mauricio Macri somou menos do que a de seu oponente Daniel Scioli. No entanto, Mauricio Macri venceu Daniel Scioli no segundo turno.
Para Eduardo Crespo, professor de Economia Internacional da UFRJ, a virada de Macri não deve se repetir este ano, pois a distância do líder é muito maior desta vez.
"Politicamente, o Macri está acabado, não chega nem ao segundo turno", disse Crespo, acrescentando que em um eventual segundo turno a maioria da oposição viraria as costas ao atual presidente.
Por outro lado, o professor destacou que o novo governo não será um governo de Kirchner.
"Não vai ser um governo kirchnerista... é um governo peronista, com apoio do aparelho peronista, sindicatos, governadores e prefeitos", explicou.
Ou seja, uma ampla frente política foi montada, pois o país vive uma emergência econômica com inflação anual chegando a quase 50%.
"Nos próximos meses o governo da Argentina será um governo de emergência. O governo vai receber um país com um Banco Central praticamente sem reservas, com vencimento de dívidas muito próximo e com saída de capitais. Vai precisar de um governo de emergência e de muito apoio", destacou o acadêmico.
Já o relacionamento com o Brasil deve piorar. Para Crespo, as recentes declarações de Jair Bolsonaro já antecipam um péssimo começo da relação com um possível novo governo. O presidente brasileiro, quando esteve na Argentina este ano, manifestou de forma aberta o seu apoio à reeleição de Mauricio Macri, inclusive prejudicando o próprio aliado, "pois a imagem de Bolsonaro não é boa na população [argentina]".
Por outro lado, o acadêmico não espera uma ruptura completa, pois "a indústria brasileira e a argentina sofreriam um golpe muito grande". Em termos ideológicos, entretanto, "será uma relação bastante tensa".
"O Bolsonaro é uma conjuntura no Brasil. Então a relação com o Brasil vai continuar e pode melhorar no futuro. Mas na atual conjuntura vai ter que lidar com o governo de Jair Bolsonaro. E ele alimenta o conflito. Ele não precisava ter interferido na política interna argentina que, por si só, já é complicada", ponderou o interlocutor da Sputnik Brasil.
De toda forma, em função da precária situação econômica argentina, a principal preocupação de Buenos Aires, independente do candidato vencedor, será a renegociação da dívida com o FMI, acrescentou o professor. Portanto os eventuais conflitos ideológicos, pelo menos no momento inicial, ficariam em segundo plano.