Na semana anterior, uma parte do Palácio da Pena, um dos principais monumentos turísticos nacionais, na cidade de Sintra, passou quatro dias fechada ao público depois que um ninho de vespas asiáticas foi encontrado na vegetação ao redor. No final do mês de agosto, um parque de Lisboa também foi encerrado durante um fim de semana pelo mesmo motivo. Nos dois casos, além da eliminação das vespas e dos ninhos foram feitas vistorias na áreas próximas.
Origem e expansão
Originária da China, a vespa velutina, popularmente chamada de vespa asiática, foi identificada pela primeira vez na Europa em 2004, na França, trazida em um carregamento de porcelana. Foi se espalhando por Itália, Espanha, Bélgica, e em Portugal surgiu em 2011, em uma cidade da região norte, vindo dentro de um carregamento de madeira.
Os casos mais recentes mostram que a espécie está se adaptando em outras áreas e chegando cada vez mais perto dos centros urbanos.
De acordo com a bióloga Maria João Verdasca, que conduz uma investigação sobre a vespa asiática na Universidade de Lisboa, a expansão em Portugal tem sido de norte a sul e merece preocupação.
"A rainha começa sozinha a construção do seu próprio ninho no início da primavera e coloca os seus ovinhos. Daí nascem as primeiras larvas, que depois se tornam as obreiras, que vão ajudar no aumento da colônia. Um ninho que tem seu tamanho inicial ali por março, abril, do tamanho de uma bola de tênis, quando chegamos a agosto e setembro temos ninhos já com milhares de indivíduos, quatro, cinco, seis mil, alguns mais. O que acontece é que desses indivíduos saem cerca de 200 a 400 fundadoras para o ano seguinte. Nem todas vão sobreviver ao inverno, mas as que sobrevivem vão formar novos ninhos", explica a pesquisadora à Sputnik Brasil.
A alta capacidade de reprodução e adaptação das vespas asiáticas chama a atenção. Maria João Verdasca já identificou algumas áreas na Europa que não estão ocupadas ainda, mas que podem se tornar alvo das invasoras.
"Hungria, Polônia, toda a Alemanha, também o sul da Itália, Croácia e Montenegro acabam por ter condições que são mais semelhantes àquelas que a vespa usa na área nativa do que àquelas que a vespa usa nesse momento. Portanto a probabilidade de a expansão acelerar quando chegar à Europa Central é maior."
Características e prejuízos
A vespa asiática se diferencia bem da vespa nativa de Portugal por ser maior, ter a cabeça preta e ter uma faixa amarela no corpo. De acordo com a pesquisadora, não é uma espécie naturalmente agressiva, mas reage de maneira mais violenta quando se sente ameaçada.
Os prejuízos causados pela invasora são muitos. Existe impacto no sistema de saúde, por causa das vítimas das picadas, também no setor agrícola, já que a vespa asiática se alimenta de outros insetos, que agem como polinizadores, e, principalmente, no setor apícola.
"Uma das coisas que as vespas fazem é se por mesmo em frente dos apiários. Sempre que as abelhas chegam para entrar são apanhadas, então as outras que estão dentro acabam por não querer sair, porque sabem que têm um inimigo. Isso tem impactos na qualidade do mel, porque a quantidade de pólen recolhido é muito inferior, e na quantidade produzida também."
A apicultora Graça Maria Oliveira mora na cidade de Aveiro, região norte do país, e convive com as invasoras desde 2015. Desde então, o trabalho é não apenas cuidar das abelhas, mas também manter as armadilhas para as vespas asiáticas. Dona Graça utiliza um veneno líquido dentro de um copo.
"É um copo amarelo, de plástico, com uma tampa e tem dois buraquinhos. O líquido tem um atrativo aromático pra elas", conta à Sputnik Brasil. Só no ano passado a apicultora somou 10.922 vespas mortas nas armadilhas e ainda assim perdeu colmeias inteiras.
Prevenção e combate
Para dona Graça, o problema é que nem todos trabalham em sintonia. O Plano de Ação para Vigilância e Controle da Vespa Velutina em Portugal, criado pelo governo, orienta, mas não cobra. Pelo plano, é responsabilidade das câmaras municipais, que equivalem às prefeituras das cidades portuguesas, coordenar os trabalhos de destruição de ninhos.
"A câmara do meu município trabalha e é diligente na retirada dos ninhos, mas tenho conhecimento que há outras que não têm o mesmo procedimento. As pessoas telefonam a dizer que viram, mas a câmara não retira", diz a apicultora. "É preciso que o plano tenha um caráter vinculativo, para que todos os municípios atuem de forma concertada. Se um atuar e o outro ao lado não, não vai surtir qualquer tipo de efeito", complementa a bióloga Maria João Verdasca.
O governo também criou um portal, o SOS VESPA, para reunir números de ocorrências, tirar dúvidas, fornecer orientações gerais e que tem um canal para denunciar o aparecimento de ninhos. Atualmente, o portal está em manutenção.
A coordenação do plano é feita pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), órgãos do ministério da Agricultura. A Sputnik Brasil procurou a DGAV para mais detalhes sobre o plano e saber sobre a possibilidade de adoção de medidas punitivas em caso de descumprimento das orientações, mas não houve resposta.