Torna-se evidente aos olhos da Europa que os Estados Unidos tentam preservar seus interesses nacionais em detrimentos dos de seus aliados, declarou à Sputnik França Anneke de Laaf, analista militar independente dos Países Baixos, quanto à decisão de seu país de participar da missão naval europeia para garantir a segurança do estreito de Ormuz.
"Após 75 anos de dominação norte-americana na Europa, alguns sonham em poder agir de novo de forma soberana. Após a crise econômica de 2008 e com a eleição de Donald Trump, os Estados Unidos não escondem mais sua política. Agora é evidente que Washington está servindo seus interesses nacionais em detrimento dos de seus aliados", opina de Laaf.
Ela até mesmo considera que é a Europa que mais sofre o impacto das sanções impostas pelos Estados Unidos contra a Rússia.
Sanções contra Moscou afetam sobretudo os europeus
"Atualmente, temos um conflito sobre o [gasoduto] Nord Stream 2 (Corrente do Norte 2), conflito com o qual Washington está tentando salvar sua indústria de gás de xisto à custa do crescimento industrial europeu. […] A Europa deve finalmente decidir de forma independente como servir os seus próprios interesses, em vez de cumprir ordens de outros atores no cenário internacional", defende a analista.
Quanto à questão do impacto a longo termo que as ações independentes da Europa possam causar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Anneke de Laaf responde:
"A Europa age sem os Estados Unidos? Não acredito que seja o caso. Por enquanto não. Ninguém propõe anular sua participação na OTAN. Espera-se que Macron se encontre de fato com Stoltenberg na próxima semana. Porém, não acho que presidente francês dirá a Stoltenberg que a OTAN deverá se manter o mais longe possível da França no estreito. Eles coordenaram suas ações. Isso significa que nada será feito sem consultar Washington".
Os Países Baixos decidiram se juntar à França após o Qatar e Kuwait terem anunciado que participam da missão naval liderada pelos Estados Unidos.
Uma missão europeia em 2020
Em 24 de novembro, a ministra francesa da Defesa, Florence Parly, declarou que a operação poderá ser lançada no início de 2020 e que uma dezena de governos europeus e não-europeus deveriam participar e que estão só à espera das autorizações de seus parlamentos.
Segundo de Laaf, o comando europeu para a vigilância marítima do golfo Pérsico será instalado na base naval francesa de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
Em julho, a imprensa informou que a França, Itália e Dinamarca concordaram com uma proposta britânica visando criar uma missão naval europeia para garantir a segurança dos navios que cruzam o estreito de Ormuz. O Irã avaliou esta iniciativa como "mensagem hostil".
Em agosto, o Governo alemão indicou que Berlim poderia também participar desta missão. O chefe da diplomacia alemã, Heiko Maas, reiterou que a Alemanha não participará de uma operação liderada pelo país norte-americano.
Crise da indústria petroleira no estreito de Ormuz
Os Estados Unidos e a União Europeia anunciaram o envio de navios ao golfo Pérsico como consequência de uma série de ataques contra petroleiros no começo do ano. Várias embarcações do Japão, Noruega, Emirados Árabes e Arábia Saudita foram atacadas em diversos incidentes em maio e junho deste ano.
Em 23 de julho, os Guardiões da Revolução do Irã interceptaram o petroleiro britânico Stena Impero no estreito de Ormuz "por violar as regras internacionais". O Reino Unido havia anteriormente detido uma embarcação iraniana acusada de transportar ilegalmente petróleo à Síria.