"Eu não me lembro de um prazo ter sido estipulado... Ah! O prazo dos norte-coreanos?", declarou David Stillwell, responsável pela região da Ásia-Pacífico do Departamento de Estado dos EUA a repórteres no mês passado, admitindo ter se esquecido do prazo imposto por Pyongyang, que expira no fim do ano.
Os Estados Unidos não pareciam levar a sério a possibilidade de eclosão de uma nova crise na península coreana. Mas, nesta quinta-feira (28), em pleno feriado nacional de Ação de Graças nos EUA, os norte-coreanos decidiram demonstrar que são capazes de desencadear uma crise quando julgam necessário.
O novo lançamento de mísseis norte-coreanos realizado nessa semana demonstrou não só que as armas da Coreia do Norte estão mais eficientes, mas também que Pyongyang leva bastante a sério o "ultimato nuclear" que fez aos norte-americanos em outubro.
De acordo com o ultimato, ou Coreia do Norte e EUA iniciam uma nova rodada de negociações até o fim do ano, ou os norte-coreanos deixam as negociações sobre o programa nuclear e retomam seu programa de desenvolvimento de mísseis nucleares de longo alcance.
Pagar pela proteção: EUA exigem recursos da Coreia do Sul e Japão
Conforme notou o jornal Washington Post, a julgar pela maneira como os EUA estão tratando os seus aliados asiáticos – Japão e Coreia do Sul – os americanos não estão preparados para lidar com uma nova crise na península coreana.
Ao invés de fortalecer os laços com seus aliados regionais, os EUA estão exigindo deles mais dinheiro para financiar a presença militar americana na região.
O presidente dos EUA exigiu que a Coreia do Sul pague cinco vezes mais aos EUA para cobrir os gastos das tropas americanas estacionadas no país, o que aparentemente ofendeu o líder do país asiático, Moon Jae-in.
Além disso, os EUA reduziram o escopo dos exercícios militares conjuntos com Seul, em uma tentativa de acalmar os ânimos de Pyongyang. Mas, ao invés de aplacar as tensões, a Coreia do Norte decidiu conduzir exercícios militares e realizar demonstrações de força do seu lado da fronteira.
Trump tampouco poupou o Japão em sua cruzada por recursos asiáticos: o presidente norte-americano solicitou U$ 8 bilhões a Tóquio para manter as tropas dos EUA no país asiático, conforme reportou a Foreign Policy (FP).
O acordo sobre a presença militar norte-americana no Japão expira em março de 2021, e, segundo a FP, essa parece não ter sido a melhor maneira de iniciar as negociações sobre a sua extensão.
A postura de Trump para com os seus aliados asiáticos tradicionais é nociva aos interesses de longo prazo dos EUA e benéfica para a Coreia do Norte, que tem interesse no fim da cooperação militar entre Coreia do Sul, Japão e EUA, concluiu o Washington Post.
Nesta quinta-feira (28), a Coreia do Norte realizou testes com o seu sistema de lançamento de foguetes múltiplos KN-25, em meio a exercícios militares na região da fronteira com a Coreia do Sul.
Os testes demonstraram avanços no sistema norte-coreano e geraram reação negativa tanto na Coreia do Sul, quanto no Japão. O Departamento de Estado dos EUA pediu que a Coreia do Norte "evite provocações" e "faça a sua parte" no processo de desnuclearização da península coreana.