Nesta terça-feira (3), ocorreu a cúpula da organização em Londres, contando com um grande reencontro dos Estados-membros: todos estavam reunidos e, apesar dos ressentimentos marcados e profundas divergências, puderam dialogar.
Relações entre França e Estados Unidos
Embora as relações entre os Estados Unidos e a França contem com um "grande respeito" mútuo, conforme os seus próprios presidentes afirmam, as relações estão se enfraquecendo ao longo dos últimos anos.
"Quando falamos do inimigo, eu diria, qual é o objetivo? Proteger nossos parceiros contra ameaças externas. A França o fará e sempre seremos plenamente solidários com os Estados do leste e norte da Europa. Hoje, porém, o inimigo comum são os grupos terroristas […] Mas tenho pena de dizer que nós não temos a mesma definição de terrorismo ao redor da mesa", declarou Emmanuel Macron, presidente da França, em coletiva de imprensa com seu homólogo norte-americano.
Os presidentes dos dois países possuem visões notavelmente diferentes sobre trocas comerciais, Síria, luta contra o terrorismo e até mesmo o papel da OTAN nos dias de hoje. Macron chegou a declarar em novembro deste ano "a morte cerebral" da organização, que completa 70 anos desde a fundação.
Porém, Emmanuel Dupuy interpreta que as palavras empregadas pelos líderes não possuem uma "importância considerável", pois os presidentes já possuem posições claramente distantes uma da outra. "Ambos os países são ainda aliados no campo militar, mas são concorrentes no campo econômico, portanto, é preciso se acostumar a que o tom entre os dois lados do Atlântico seja mais vigoroso", destaca o analista francês em trecho da entrevista à Sputnik França.
Segurança europeia
Dupuy não acredita que a França possa sair da organização em um futuro próximo, "não são palavras que vão provocar uma decisão política". Para o especialista em segurança europeia, Macron busca ocupar a liderança deixada por Donald Trump, segundo ele: "Emmanuel Macron deseja claramente substituir Donald Trump em sua luta pela liderança, tanto no seio da União Europeia como, sobretudo, da OTAN".
Quando questionado sobre a possibilidade de uma Europa estrategicamente autônoma, Dupuy observa que "o aspecto teatral da coletiva de imprensa entre os dois presidentes" não significa que os Estados Unidos sairão da Aliança Atlântica, mas que “exista por parte dos europeus uma maior responsabilização na sua estratégia de defesa. Isso passa por um aumento do orçamento de Defesa de cada país, que vai de acordo com as demandas feitas por Donald Trump".
O analista acredita que a aliança ainda seja pertinente e esteja passando por uma reconfiguração da estratégia do bloco, que começa a compreender que a natureza das ameaças que os Estados-membros enfrentam mudou ao longo dos últimos 70 anos desde sua fundação. Hoje elas "se encontram nos flancos meridionais e orientais, mas também se pode acrescentar a segurança cibernética e espacial".