No Dia Internacional contra a Corrupção, celebrado nesta segunda-feira (9), o professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, disse à Sputnik Brasil que tanto a nova "legislatura como o presidente foram eleitos" com a promessa de que "combateriam com muita força e veemência a corrupção", mas o "discurso é uma coisa, a prática política é outra".
Segundo ele, a própria força do nome de Moro, ícone do combate à corrupção e ao crime organizado que foi nomeado ministro da Justiça, contribui para o enfraquecimento da bandeira anticorrupção do atual governo.
Ministro sem 'prática e trânsito' na política
"Sua popularidade é maior do que do próprio Bolsonaro, que possivelmente identificou no Moro um possível adversário nas eleições de 2022. E todos aqueles identificados como adversários ou que não tenham concordado com o presidente e seus filhos acabaram excluídos do poder. Foram queimados publicamente, cozinhados, até deixar o governo. Moro também passou por um processo de dificuldades no transito politico, o próprio Bolsonaro acabou o desautorizando e diminuindo sua importância, o que deixou essa ânsia pelo combate a corrupção num plano de aguardo", afirmou.
Prando ressaltou ainda que Moro é um novato na "negociação política", sem "prática, trânsito e experiência" nos corredores de Brasília. Por isso, teve dificuldades e falta de apoio do legislativo e do executivo para aprovar o seu principal projeto, o pacote anticrime, que teve muitos pontos classificados como abusivos por especialistas e parlamentares.
O pacote, primeiro foi deixado de lado pelo Congresso, e depois alterado e aprovado com muitas modificações na Câmara, desagradando Moro. Antes mesmo de se tornar ministro, o então juiz sofreu uma derrota parecida.
As Dez Medidas contra a Corrupção, propostas por um grupo de procuradores, tendo o chefe da operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, como seu maior garoto propaganda, além de Moro, foi desfigurado no Congresso em 2016 e depois voltou à estaca zero por determinação da Justiça, ficando parado desde então.
A campanha popular para divulgar o plano foi lançada em 2015, justamente no Dia Internacional contra a Corrupção. Assim como no caso do pacote anticrime, muitas das dez medidas foram consideradas abusivas.
Lava Jato teve imagem manchada
Embora a popularidade de Moro continue alta - segundo pesquisas ele venceria tanto Bolsonaro como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se as eleições fossem hoje, os métodos do ex-juiz começaram a ser questionados por parcela da sociedade.
Revelações trazidas à tona pelo site The Intercept e outros veículos mostram diálogos que mostrariam uma relação irregular entre Moro e os procuradores da Lava Jato. Para Prando, os diálogos vazados enfraquecem a operação, pois quem "dá vigor às instituições são os indivíduos", e "muitos entendem que os membros da Lava Jato e Moro 'exorbitaram suas funções'".
O cientista político disse ainda que em relação ao combate à corrupção, Bolsonaro precisa lidar com uma sombra: o caso envolvendo seu filho e senador Flavio Bolsonaro, suspeito de praticar a "rachadinha" entre os membros de seu gabinete quando era deputado estadual pelo Rio de Janeiro – prática na qual os funcionários devolvem seus salários para o parlamentar para possível lavagem de dinheiro.
'E o Queiroz?'
"Ai vem uma decisão do Supremo Tribunal Federal que paralisa as investigações e que acabou favorecendo o filho do presidente. O presidente teve que se adequar, qualquer tentativa de bater pesadamente no Supremo ou discutir a questão da corrupção tinha como contraposição vozes que diziam, 'E o Queiroz' [ex-assessor de Flavio que estaria envolvido no esquema]? O que virou até mesmo um mantra de muita gente", disse Prando.
O ministro Dias Toffoli interrompeu todas as investigações em curso que usaram dados de órgãos de controle fiscal, como o antigo COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), atual UIF (Unidade de Inteligência Financeira), sem autorização judicial. Depois, o Supremo acabou votando a favor do uso dos dados de órgãos de controle nas investigações, com algumas pequenas restrições, o que deve reabrir o caso de Flavio Bolsonaro.
Corrupção também tem razões culturais
Mas Prando afirmou que a corrupção, além de razões políticas, tem causas "culturais, jurídicas, e institucionais".
"A corrupção demanda uma combate e uma prevenção no campo da politica, com seriedade dos políticos e um espirito republicano, de entender que ele é um servidor do público, e não que deve se servir do público. Mas deve partir também de um elemento educacional, cultural, de desde a mais tenra infância explicar o que é certo e errado, de coibir o comportamento desviante", opinou.