O caminhoneiro Marconi França, uma das lideranças dos autônomos da greve, afirmou que no Nordeste há pelo menos 8 pontos de paralisação no momento. França, porém, considera que a mobilização perdeu força devido ao anúncio do Ministério da Infraestrutura de discutir uma reivindicação do movimento. Tal medida teria feito com que muitos caminhoneiros decidissem aguardar a posição do Ministério.
"O fluxo está pequeno ainda, mas começamos e estamos aqui na rodovia [BR 101] falando da nossa insatisfação com esse governo", disse o caminhoneiro em entrevista à Sputnik Brasil.
Os caminhoneiros se posicionam contra o aumento no preço do diesel, que teve 11 altas seguidas no ano, e por melhores condições de trabalho, além de correções nas tabelas de frete que, segundo a liderança, vem sendo desrespeitada.
Petrobras diz que derivados acompanham mercado internacional
Em seu site oficial, a Petrobras justifica as variações nos preços do óleo diesel, gasolina e outros afirmando que “os combustíveis derivados de petróleo são commodities e têm seus preços atrelados aos mercados internacionais, cujas cotações variam diariamente, para cima e para baixo".
"Por isso, a variação dos preços nas refinarias e terminais é importante para que possamos competir de forma eficiente no mercado brasileiro", acrescenta a estatal.
Para o economista Edmar de Almeida, os caminhoneiros têm motivos para protestar, mas a solução não passa pelo governo impedir os reajustes do diesel, e sim diminuir a carga tributária do produto.
Segundo o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Petrobras acerta ao "manter uma política de alinhamento do preço do diesel no Brasil em relação ao mercado internacional".
Economista sugere diminuir carga tributária
Quando isso não foi feito, alerta o o especialista em óleo e gás, "principalmente entre os anos de 2010 e 2014", a estatal sofreu um "prejuízo de mais de 50 bilhões de dólares e teve o maior endividamento de sua história".
Almeida disse à Sputnik Brasil que os impostos sobre o produto poderiam ser reduzidos. "Infelizmente ocorre o contrário, principalmente no caso dos governos estaduais, que pela pressão fiscal vem aumentando o ICMS cobrado dos derivados", opinou.
"A carga tributária não pode ser a mesma quando o preço do petróleo está muito alto", afirmou.
O caminhoneiro Marconi França, por sua vez afirmou que a categoria já não confia mais no ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que prometeu discutir as reivindicações - o que a liderança dos caminhoneiros chamou de estratégia para desmobilizar os motoristas.
As reivindicações que serão avaliadas são: a implementação de uma multa para quem descumprir a tabela de fretes e a implementação do Código de Identificação da Operação de Transporte (CIOT) para toda a categoria. O CIOT tem como função servir de instrumento para fiscalizar o pagamento do frete de acordo com o preço tabelado.
"A gente não está querendo nada demais, a gente só quer o justo para trabalhar, para a gente continuar levando o que o Brasil produz nas costas", disse.
Segundo França, os caminhoneiros têm sofrido com baixos pagamentos e altos custos nas viagens. Há cerca de 10 dias, a liderança anunciou que 70% dos caminhoneiros autônomos poderiam aderir ao movimento e parar o Brasil na semana anterior ao Natal, como divulgou o site Correio Braziliense através de um vídeo. Nas imagens, França aparece ao lado de lideranças da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a quem pediu apoio ao movimento.
"Eu acho que esse governo não tomou ciência da importância que nós caminhoneiros temos para a economia desse Brasil. De nada adianta o agronegócio plantar e produzir, de nada adianta a indústria produzir se nós não distribuirmos o que eles produzem", aponta.
França alerta que caso a adesão siga baixa, os caminhoneiros vão aguardar a posição do governo, mas aponta que a categoria seguirá mobilizada.
"Esse governo não vai nos cansar, nem vai nos enterrar vivos", conclui.