Na primeira semana do ano, surgiram mais más notícias, com o Irã dizendo que deixará de aderir às limitações de enriquecimento, níveis de enriquecimento e estoque de urânio anotados no acordo nuclear de 2015.
O anúncio aparentemente irritou a Alemanha, um dos três países europeus que tentaram salvar o acordo após a decisão abrupta do presidente Donald Trump de retirar os EUA dele em maio de 2018.
"Definitivamente falaremos novamente com o Irã", declarou o ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, em entrevista à rádio Deutschlandfunk nesta segunda-feira.
Ele afirmou que as ações do Irã "não são consistentes com o acordo" e podem levar a um resultado calamitoso. "Ninguém quer que o Irã se aproxime da obtenção de armas nucleares", prosseguiu o principal diplomata de Berlim.
"Este poderia ser o primeiro passo para o fim deste acordo, o que seria uma grande perda, por isso avaliaremos isso com muita responsabilidade agora", acrescentou.
Maas completou que "nós, como Europa", daremos uma contribuição para garantir que todas as oportunidades sejam usadas "para dar outra chance à diplomacia".
Como parte dos acordos de 2015, o Irã admitiu limitar suas atividades nucleares, especialmente o enriquecimento de urânio - um elemento-chave usado para produzir uma arma nuclear - e permitir inspeções internacionais em troca do levantamento de sanções econômicas.
Mas a retirada de Trump do acordo e a reimplantação de sanções viu o Irã gradualmente diminuindo seus compromissos sob o acordo. Ao longo de 2019, vinha ativando novas centrífugas e enriquecendo urânio a níveis proibidos pelo acordo.
Momento de virada
Esperava-se que Teerã anunciasse sua última posição sobre o acordo, pouco antes de um ataque aéreo dos EUA perto de Bagdá matar o general Qassem Soleimani, comandante de longa data da Força Quds, parte secreta da elite da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã.
O assassinato direcionado levantou a ira da liderança iraquiana, que disse sem rodeios que violava a soberania do país. Os parlamentares locais aprovaram uma resolução pedindo uma retirada total das forças estrangeiras, à qual a Casa Branca respondeu ameaçando multas que "tornariam as sanções iranianas um pouco menos fáceis".
Para Maas, essas ameaças "não são úteis", dadas as tensões que surgiram na região. "Não acho que seja possível com ameaças convencer o Iraque, mas com argumentos", ponderou ele à Deutschlandfunk.
As ameaças das sanções de Trump a Bagdá não são produtivas, uma vez que cabe ao Iraque decidir se continua hospedando tropas estrangeiras em seu território, insistiu Maas.
No domingo, o Parlamento iraquiano votou para cortar os laços com a coalizão liderada pelos EUA e expulsar as tropas estrangeiras que operam no país depois do assassinato de Soleimani perto do aeroporto de Bagdá.
Trump, por sua vez, ameaçou o Iraque com "sanções como nunca haviam visto antes", dizendo que as tropas americanas não sairão do país a menos que Bagdá retribua a "base aérea extraordinariamente cara" do país, localizada lá. O líder dos EUA afirma que Soleimani era um "assassino" que planejou ataques a americanos.
"Acho que [as ameaças] não são muito úteis no momento [...] Investimos muito, não apenas em termos militares, na reconstrução deste país e na criação de infraestrutura. Tudo isso está ameaçado se a situação continuar dessa maneira. No entanto, o Iraque não deve ser persuadido por ameaças, mas por argumentos, dos quais existem muitos", disse Maas.
O ministro acrescentou que Bagdá teria de qualquer maneira a "última palavra" sobre o assunto.
O Iraque condenou duramente o ataque de drones dos EUA como uma violação de sua soberania, enquanto o governo nacional anunciou que estava trabalhando na decisão do Parlamento de pôr um fim às atividades da coalizão liderada pelos EUA no país.