De acordo com o porta-voz da Presidência, general Otavio do Rêgo Barros, a participação em Davos foi cancelada por "aspectos econômicos, de segurança, políticos". Em 2019, o presidente brasileiro abriu o Fórum Econômico Mundial com um discurso de 7 minutos, apesar da organização do prestigiado evento ter reservado ao líder brasileiro 45 minutos.
Na Índia, Bolsonaro será acompanhado dos ministros Paulo Guedes (Economia), Tereza Cristina (Agricultura), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Bento Albuquerque (Minas e Energia). A expectativa é que acordos sejam assinados entre os dois países que também integram o BRICS, entre eles um Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos.
O Brasil exportou US$ 2,58 bilhões em produtos à Índia de janeiro a novembro de 2019. Os principais produtos exportados foram: óleos brutos de petróleo (35%), óleo de soja bruto (10%) e ouro em formas semimanufaturadas, para uso não monetário (8,7%). No mesmo período, o Brasil importou da Índia US$ 3,94 bilhões e os principais produtos foram: compostos heterocíclicos, seus sais e sulfonamidas (12%), óleos combustíveis (9,6%) e inseticidas, formicidas, herbicidas e produtos semelhantes (9,3%). Os dados são do Ministério da Economia.
O presidente brasileiro deverá acompanhar as celebrações do Dia da República. O ex-diplomata e professor de relações internacionais da ESPM/SP Fausto Godoy afirma que essa participação indica que Nova Déli atribui ao Brasil "uma importância muito grande". Fernando Henrique Cardoso (1996) e Lula (2004) também já participaram da cerimônia, segundo o jornal Valor Econômico.
Godoy, que também é diretor da Câmara de Comércio Brasil-Índia, diz que os dois países estão se aproximando e que "o gigante acordou para outro gigante".
"O que os indianos querem do Brasil? Eles estão seguros que o jogo geopolítico na região, do leste da Ásia, é um jogo pesado porque você tem ali China, Japão, Paquistão, Rússia, então a Índia está buscando aliados possíveis", diz o professor da ESPM. Godoy afirma que Nova Déli busca "ter um aliado de peso no Hemisfério Sul, um país do porte do Brasil".
No aspecto comercial, o professor de relações internacionais destaca que, como os praticantes da religião hindu não comem carne bovina, um dos principais produtos de exportação do Brasil sofre um desfalque considerável. Os hindus formam o grupo religioso mais popular da Índia.
No sentido contrário, as vendas da Índia para o Brasil, Godoy afirma que há uma presença crescente de empresas indianas em solo brasileiro, principalmente no setor farmacêutico, e que o país asiático é forte no setor de tecnologia da informação.
O analista também ressalta que Bolsonaro "deu um tapa na cara da China" ao visitar Taiwan, quando ainda era candidato. Pequim não considera Taiwan um país independente, mas sim parte de seu território e a agenda internacional de Bolsonaro desagradou as autoridades chinesas.
O presidente, contudo, mudou de postura e recentemente fez uma visita de Estado à China. Esse novo posicionamento no Oriente permitiu a futura visita de Bolsonaro à Índia, diz Godoy. Antes, havia a impressão na Ásia de que Bolsonaro poderia ser "um aliado exclusivo dos Estados Unidos".