Nem conto nem lenda: canibais caribenhos referidos por Colombo realmente existiram

© AFP 2023 / Centro Nacional ArqueológicoCrânio encontrado pelos arqueólogos indonésios no local de um submarino alemão afundado na época da Segunda Guerra Mundial
Crânio encontrado pelos arqueólogos indonésios no local de um submarino alemão afundado na época da Segunda Guerra Mundial - Sputnik Brasil
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Estudo publicado na Scientific Reports revela que cientistas, tendo analisado caveiras de indígenas caribenhos, concluíram que os canibais referidos nos diários de Colombo provavelmente existiram.

Os apontamentos de Cristóvão Colombo das suas viagens às ilhas do Caribe contêm relatos comoventes de ataques sobre a população nativa movidos por tribos canibais de etnia caribe que comiam pessoas e raptavam mulheres para escravidão. Tradicionalmente sendo considerados mitos, esta nova investigação mostrou que Colombo falava verdade.

Usando tecnologia de reconhecimento facial, cientistas americanos liderados por Ann Ross, da Universidade da Carolina do Norte, analisaram os crânios dos primeiros habitantes da bacia do Caribe, revelando a história das relações entre diferentes grupos de indígenas caribenhos pré-colombianos.

No total, foram analisadas mais de 100 caveiras datadas dos anos 800 a 1542 d.C. Como parâmetros "genéticos", os cientistas usaram cerca de duas dezenas de marcadores para calcular o tamanho das órbitas oculares, o comprimento do nariz e outras partes do rosto, que mostram a proximidade da conexão entre as pessoas. A análise revelou não apenas três grupos separados de habitantes da bacia do Caribe não relacionados entre si, como permitiu reconstituir suas rotas de migração.

© AP Photo / Courtesy of Arturo GonzalezArqueólogo mergulhador com crânio intocável há pelo menos 8.000 anos, descoberto em uma caverna perto de Tulum, nos arredores da costa do Caribe
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Arqueólogo mergulhador com crânio intocável há pelo menos 8.000 anos, descoberto em uma caverna perto de Tulum, nos arredores da costa do Caribe

A descoberta mais surpreendente foi que os referidos canibais, vindos da costa caribenha da América do Sul, navegaram não apenas até a ilha de Guadalupe, como se pensava anteriormente, mas também mais para norte. Muito antes dos espanhóis eles colonizaram a Jamaica, a Hispaniola (atual República Dominicana e Haiti) e as Bahamas. As caveiras mostram que a presença dos caribes nestas ilhas era bastante acentuada.

"Perdi anos tentando provar que Colombo estava errado, mas afinal descobri que ele estava certo: havia indígenas caribes no norte da bacia do Caribe quando ele chegou. Teremos de rever todas as nossas opiniões", segundo William Keagan, um dos autores do estudo, citado em um boletim de imprensa do Museu de História Natural do Caribe na Flórida.

Os resultados do estudo mostraram que os primeiros habitantes da bacia do Caribe eram oriundos da península de Iucatã e se mudaram para Cuba e Antilhas do Norte, o que confirma a hipótese anterior baseada na semelhança dos utensílios de pedra.

Posteriormente, entre os anos 800 e 200 a.C., do litoral das atuais Colômbia e Venezuela para Porto Rico migraram as tribos aruaques. Nos séculos IX-XI d.C., a Jamaica, Hispaniola e Bahamas seriam ocupadas pelos caribes. Conforme ficou demonstrado arqueologicamente, eles já estavam firmemente enraizados nesta zona aquando da chegada de Colombo.

A Coroa Espanhola, que inicialmente relacionara-se amistosamente com os indígenas, viria a mudar sua posição quando confrontada com o canibalismo dos caribes e a recusa dos povos índios em se converterem ao cristianismo, fato que entre outras razões levaria à escravidão total e ao extermínio parcial da população autóctone.

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