De acordo com o procurador Wellington Divino Marques de Oliveira, Greenwald, fundador do site The Intercept, foi "partícipe" nos crimes de invasão de dispositivos informáticos e monitoramento ilegal de comunicações de dados, além de ter cometido o crime de associação criminosa.
A operação Spoofing, do MPF, investiga o roubo de mensagens trocadas entre procuradores da Lava Jato, como o coordenador da operação em Curitiba, Deltan Dallagnol, e o então juiz Sergio Moro.
Os diálogos mostrariam que Moro e os procuradores excederam o papel de suas funções
As conversas estão sendo publicadas pelo The Intercept e outros veículos da mídia. De acordo com a Constituição, o jornalista tem garantido o sigilo de fonte.
Gilmar Mendes tinha determinado que PF não investigasse jornalista
Apesar da denúncia, Greenwald não tinha sido investigado nem indiciado pela Polícia Federal, obedecendo a uma decisão cautelar do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O procurador, no entanto, afirmou que ficou demonstrado, em um áudio encontrado em um computador apreendido, que o jornalista teria orientado o grupo de hackers a apagar mensagens.
Segundo o procurador, a atitude caracteriza "clara conduta de participação auxiliar no delito, buscando subverter a ideia de proteção a fonte jornalística em uma imunidade para orientação de criminosos".
Em julho de 2019, a Polícia Federal prendeu quatro suspeitos de envolvimento na invasão das contas de Telegram das autoridades.
Um dos detidos, Walter Delgatti Neto, admitiu que foi o responsável por entrar no aplicativo, capturar as mensagens e repassá-las a Glenn, mas disse que agiu por conta própria e não recebeu dinheiro.
Além de Glenn e de Delgatti, os outros denunciados pelo MPF são Thiago Eliezer Martins Santos, que seria um dos líderes do grupo; Danilo Cristiano Marques, suposto "testa de ferro" de Delgatti; Gustavo Henrique Elias Santos, que teria criado as ferramentas para invadir o Telegram; a mulher dele, Suelen Oliveira, acusada de agir como laranja em fraudes; e Luiz Molição, que teria sido porta-voz do grupo nas conversas com o jornalista.
Defesa diz que decisão é política e fere liberdade de imprensa
Os crimes imputados são os de organização criminosa, lavagem de dinheiro (exceto em relação a Glenn) e interceptações telefônicas ilegais.
A Justiça agora terá que analisar a denúncia. Se considerar que há indícios da prática dos crimes, determinará abertura de processo. Apenas nessa fase os investigados viram réus e é instaurado processo judicial.
Por meio de nota, a defesa de Glenn Greenwald disse que recebia a denúncia com "perplexidade", prepararia "medida judicial cabível" e pediu apoio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
"Trata-se de um expediente tosco que visa desrespeitar a autoridade da medida cautelar concedida na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 601, do Supremo Tribunal Federal, para além de ferir a liberdade de imprensa e servir como instrumento de disputa política. Seu objetivo é depreciar o trabalho jornalístico de divulgação de mensagens realizado pela equipe do The Intercept Brasil em parceria com outros veículos da mídia nacional e estrangeira", diz o comunicado.