Um relatório divulgado nesta semana pelo Fórum Econômico Mundial aponta que o Brasil está na 60ª posição num ranking de 82 países que mede o índice de mobilidade social – ou seja, as chances de um indivíduo melhorar de vida ao longo dos anos.
A nação com a melhor mobilidade social é a Dinamarca, seguida de Noruega e Finlândia. A Costa do Marfim está na última colocação. Na América do Sul, o Brasil está atrás de Uruguai (35º), Chile (47º) e Equador (57º), enquanto Colômbia (65º), Peru (66º) e Paraguai (69º) vêm logo atrás.
Para a professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a colocação ruim do Brasil "é reflexo da desigualdade social, concentração de renda, baixas condições de vida e da falta de políticas públicas, principalmente em educação e saúde".
Desempregado treinado para reinserção no mercado
Por outro lado, segundo ela, a alta mobilidade dos países escandinavos se deve, entre outras coisas, a uma política de incentivo ao treinamento da mão de obra.
"Eles têm uma política antiga de treinamento e retreinamento da mão de obra, que se originou no início do século passado: preparar sua mão de obra para estar sempre disponível para o mercado de trabalho. Esses países inclusive têm um ministério de treinamento de mão de obra", disse Maria Beatriz à Sputnik Brasil
A economista citou ainda políticas específicas para os desempregados, que, além de receberem um seguro, como no Brasil, passam por um processo de reinserção no mercado de trabalho.
"O trabalhador ficou desempregado, automaticamente é treinado. Vão ver suas habilidades e fazer um retreinamento para que o indivíduo seja realocado no mercado de trabalho", explicou a professora da UERJ.
'Círculo vicioso'
Já no Brasil, ela disse que existem dificuldades de "acesso ao emprego", que são causadas por falta de "mão de obra capacitada". Carência que por sua vez é provocada por baixos investimentos na educação.
"É como se fosse um círculo vicioso, com todas as condições de não ter possibilidade de crescer rapidamente no longo prazo", afirmou Maria Beatriz.
De acordo com o ranking, no Brasil, um cidadão nascido no menor patamar de renda levaria nove gerações para chegar à renda média do país. Na Dinamarca, essa ascensão social demoraria só duas gerações.
Para Maria Beatriz, a educação no Brasil não estimula as crianças e jovens a desenvolverem seu potencial, pois "faz apenas uma transmissão de conhecimento", sem explorar "as condições sociais das pessoas para estimulá-las".
Na educação, 'atratividade e controle'
Além disso, a especialista disse que é preciso "ter atratividade e controle" para garantir a presença dos alunos na sala de aula.
"Em alguns países da América Latina em que a criança não vai à escola, como no Chile, a autoridade pública vai à casa da pessoa para saber por que a criança não está frequentando a escola. Nas primeiras vezes você é advertido. Ao final a polícia vai saber por que a criança não está indo para a escola", disse Maria Beatriz de Albuquerque David.