Nesta semana, o ministro norueguês da Defesa, Frank Bakke-Jensen, comparecerá ao Parlamento para responder a perguntas sobre os planos anunciados de permissão concedida a aviões norte-americanos de utilização de ponte aérea na ilha polar de Jan Mayen. Uma das razões apontadas pela emissora nacional NRK é que as Forças Armadas norueguesas não estão em condições de prestar o serviço em Jan Mayen, devido à sua missão em curso no Mali.
Audun Lysbakken, que lidera o Partido Socialista de Esquerda e é membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Parlamento, pediu ao ministro da Defesa para confirmar se a Noruega convidou a Força Aérea norte-americana a utilizar a ilha para aterrissar. Na sua carta, Lysbakken também inquiriu ao Ministério da Defesa avaliações entre o uso da pista de aterrissagem pelos EUA e a relação da Noruega com a Rússia.
Reações
Vários acadêmicos e políticos criticaram os planos como mal concebidos, prevendo que levariam a Noruega para uma rivalidade de superpotências.
"É bastante provável que a Rússia os vejam como a Noruega preparando caminho para uma maior presença dos EUA, e depois reaja negativamente. Muito provavelmente ajudará a aumentar as tensões da política de segurança no norte", disse a pesquisadora sênior Julie Wilhelmsen, do Instituto Norueguês de Relações Internacionais (NUPI, na sigla em inglês).
O professor da Faculdade de Defesa, Tormod Heier, sugeriu que a Noruega está sendo "arrastada para uma grande rivalidade de poder porque não conseguimos ficar nas nossas próprias casas com nossas próprias forças".
"Quando as autoridades norueguesas escolhem os Estados Unidos, devem contar com a Rússia interpretando isso como um ato quase provocador. Isto estimulará maior atividade de exercício russa mais a oeste e perto da fronteira territorial norueguesa no mar da Noruega", ponderou Heier à NRK. Segundo ele, os voos da Suécia ou da Dinamarca teriam sido uma solução melhor.
A decisão, argumentou ele, também reflete grandes fraquezas das Forças Armadas norueguesas.
"Mostra que a Noruega é tão fraca de forma puramente militar que já não temos capacidade para fornecer nossas próprias tripulações, sejam elas civis ou militares", sublinhou.
Noruega e EUA
Andreas Osthagen, pesquisador sênior do Instituto Fridtjof Nansen, argumentou que o uso militar norte-americano de Jan Mayen é um sinal do crescente interesse americano pelo Ártico.
"Deve ser visto no contexto do crescente interesse e compromisso dos EUA com o Ártico, e [com] o Ártico durante a administração de Trump, onde se enquadra bem em várias ações políticas simbólicas e reais que estão sendo tomadas", destacou Osthagen, acrescentando que "se você quer evitar provocar a Rússia, isto pode não ser a coisa mais inteligente a fazer".
O líder do Partido Vermelho, Bjornar Moxnes, pediu uma audiência parlamentar sobre o assunto.
"É imperdoável deixar uma superpotência imprevisível como os Estados Unidos assumir tarefas militares na Noruega, algo que as Forças Armadas norueguesas podem fazer muito bem. Isto é especialmente verdade nos Territórios do Norte, onde isto está condenado a aumentar as tensões com a Rússia", disse Moxnes.
Jan Mayen é uma ilha polar norueguesa localizada na fronteira entre o mar da Noruega e o mar da Groenlândia. Jan Mayen se tornou parte do Reino da Noruega em 1930, e não é abrangida pelo Tratado de Svalbard, que reconhece a soberania do arquipélago pela Noruega. Jan Mayen é gerido pelo governador do Condado de Nordland, enquanto que as Forças Armadas norueguesas são responsáveis pelo funcionamento do aeroporto e outras infraestruturas na ilha. Não tem população permanente, mas tem várias dezenas de residentes temporários.