A pesquisa, publicada na revista The Lancet, foi realizada por um grupo de cientistas chineses de várias instituições médicas e revela os pormenores dos casos dos primeiros 41 pacientes hospitalizados com infecção confirmada pelo novo tipo de coronavírus 2019-nCoV.
O primeiro caso foi detectado em 1º de dezembro de 2019 e o paciente não referiu a relação com o mercado de frutos do mar. Também não foi encontrada uma relação epidemiológica entre o primeiro paciente e os casos seguintes. Segundo os pesquisadores, 13 dos 41 casos não tiveram relação com o mercado de frutos do mar.
Nas declarações anteriores das autoridades de saúde chinesas e da Organização Mundial da Saúde foi referido que os primeiros sintomas no primeiro paciente foram detectados em 8 de dezembro de 2019 e que a maioria dos casos teve ligações com o mercado de frutos do mar, que foi fechado em 1º de janeiro de 2020.
Os cientistas afirmam que os primeiros casos da infecção por vírus, dado o período de incubação, deveriam ter acontecido em novembro de 2019 ou até antes. Nesse caso, o vírus já se espalhou entre os habitantes de Wuhan, e possivelmente para fora da cidade, antes do primeiro caso ter sido registrado e relacionado com o mercado.
O especialista em doenças infecciosas Daniel Lucey, da Universidade de Georgetown, Washington, EUA, explicou à revista científica Science que após o artigo publicado na The Lancet surge a questão sobre a precisão da informação inicial apresentada pela China.
No início do surto, a principal fonte oficial de informação eram as declarações da Comissão Municipal de Saúde de Wuhan. Nas declarações de 11 de janeiro foi anunciada a quantidade de 41 casos confirmados, que não mudou até 18 de janeiro. Entretanto, indicava-se que em todos os casos a origem era o mercado de frutos do mar e que não havia evidências de transmissão do vírus de humanos para humanos.
"É provável que neste momento na China tenham entendido que a epidemia não surgiu no mercado de frutos do mar Huanan em Wuhan", disse Daniel Lucey.
"Um dos cenários considerados por nós é a infecção de alguém fora do mercado e depois a sua chegada ao mercado. Isso é bastante verosímil, considerando os dados e conhecimentos correntes", disse o biólogo-evolucionista Kristian Andersen, do Instituto de Pesquisa Scripps, em uma entrevista à revista Science.
Andersen analisou a estrutura do vírus 2019-nCoV para descobrir sua origem. Segundo ele, outro cenário é o aparecimento no mercado de animais infectados.
"Agora é evidente que o mercado de frutos do mar não é a única origem do vírus. Mas para dizer a verdade, até agora nós ainda não sabemos de onde surgiu o vírus", disse o chefe da pesquisa descrita na The Lancet, doutor Bin Cao.